quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

LENDO.ORG (50)

Tem contas que não fecham. Gastei R$ 6 mil em livros em 2021, e li apenas 22 títulos. Resumindo: tive tempo pra comprar, mas não pra ler, livros.  Não há de ser nada, 2022 promete mais tempo para esse que é um dos meus três prazeres sublimes na vida.  É, listo e dou notas para os livros lidos. Por coincidência 11 ficção, 11 não-ficção.  O romance do ano foi Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse.  Esse alemão/suíço é meu escritor predileto há anos.  Sabe aquilo? Profundidade psicológica, riqueza espiritual, fôlego narrativo, boas pitadas de erotismo...  Humanista puro, Hesse me puxa lágrimas com frequência.  E em não-ficção, Banzeiro Òkòtó, de Eliane Brum.  Li três livros dessa jornalista gaúcha/paulistana/altamirense neste ano.  Gamei no sua prosa rica em recursos de linguagem, mas sobretudo forte, muito forte, na investigação da realidade.  E a realidade da detonação da Amazônia precisava de um texto assim.  Escrevi no Face que o texto da Brum é uma paulada, alguém disse que é uma alavanca... E é isso mesmo.




quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

LENDO.ORG (49)

Me ocorre que livros ainda são um bom presente pra dar.  Pelo menos eu gosto de receber rsrs.  Confesso, bem pode ser um vale-livro, que é como ganhar de presente dinheiro: o vale se transforma em qualquer livro. Digo "ainda", porque considero que tradições ficam velhas e podem (ou devem) ser superadas.  Só que mude você suas tradições, não me venha mudar as minhas!  rsrs. Cada um tem a sua tradição imutável, e a minha são os livros, que durem para sempre!  E nessas fui a duas livrarias, uma intencionalmente, a Livraria da Tarde, em Pinheiros. Livraria de bairro (aqui), a filial que é matriz, só ela, charmosa, aconchegante, pega-se o livro como em um culto...  E ontem, em um shopping, dei com a Livraria Leitura, hoje a maior rede do Brasil (aqui), 83 lojas, livros empilhados como laranjas ou peixes no Mercadão...  Dois conceitos bem diferentes de fazer a mesma coisa:  aproximar o livro físico - objeto que melhor expressa nossa humanidade - ao leitor.  As duas estavam com bom movimento, nem tudo está perdido.  Considere dar um livro de presente no Natal.  BOAS FESTAS e um 2022 muito feliz pra você!



segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

LANCES URBANOS (74)

Aproveitando o solstício, que é amanhã, registrei essa cena agora há pouco, 19h.  O farol demorou pra abrir, deu tempo de sacar (não o celular) a máquina da cartucheira e clicar.  Quem adivinha que torre é essa?   Confesso que precisei buscar o nome (não no google) no velho guia Abril 2007 da cidade.  Igreja do Calvário.  Rua Cardeal Arcoverde, Pinheiros. Vai ver que é porque nunca entrei, nunca gravei o nome dessa igreja.  Mas gostei da foto.



domingo, 12 de dezembro de 2021

LIXA GROSSA & CIA LTDA (58)

Quando a terra que pariu o nazismo faz uma coligação dessas, plural e arejada, pra tocar a vida pra frente, bate um otimismo na gente.  Social-democratas, verdes e liberais se uniram para conduzir a Alemanha, que nem vinha mal das pernas, longe disso, após um governo centrado e respeitoso como foi o da Angela Merkel.  E a passagem de cargo para o novo chanceler, Olaf Scholz, foi com flores...  Olhando para a nossa terra arrasada, essa união de centro democrático dá uma baita duma inveja.  Vamos conseguir fazer isso aqui?  Jogar os extremos pra escanteio, e governar com e para uma maioria silenciosa, que só quer o mínimo de equilíbrio, sanidade e competência?  Sim, porque estamos no meio do desequilíbrio, da insanidade e da incompetência. Que há de passar!  ET:  a cartinha saiu no Estadão impresso de hoje.  No novo formato o espaço pro leitor ficou menor, tá mais difícil sair, mas essa emplacou!
Estadão impresso de 12/12/21


domingo, 28 de novembro de 2021

LENDO.ORG (48)

Esse livro, dispensado, voltou à biblioteca. A sacolinha com livros para a amiga ficou um mês na porta de casa, ela não mostrou mais interesse, fui olhar ontem e pronto, resgatei A Estrada do Futuro.  E fui ler o primeiro capítulo, pela terceira vez.  Escrito há 26 anos, continua atual.  Em 1995 Gates vislumbrava a chegada dessa fase que vivemos:  a força da internet e a onipresença da comunicação total entre pessoas.  Ele via um paralelo entre aquele momento, e 20 anos antes, 1975, quando a Microsoft nasceu, e ele lembra como estava "no lugar certo na hora certa".  Ele não disse com todas as letras, mas também era a pessoa certa para estar ali:  tinha queda por uma coisa meio misteriosa então, os chips que surgiam, e a necessidade de softwares para acioná-los.  Gates e Paul Allen sacaram isso, e o resto é história.  Em 1995, ele observava a "estrada", a oportunidade para novos "Gates e Allens" surgirem.  Estava certo.  Vieram Zuckerbergs, Bezos e outros...  Digo que o livro continua atual, porque com seu estilo tranquilo, Bill Gates vai dando dicas, alôs, sobre posturas para estar "no lugar certo na hora certa". Isso, penso eu, não para criar uma nova Microsoft, mas para fazer dar certo uma pequeno projeto, que seja.  Ele cita, por exemplo, criatividade e concentração.  Como ter um bom resultado, em qualquer coisa, sem criatividade e concentração?


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

LANCES URBANOS (73)

O Parque Augusta já está pequeno para a demanda reprimida de alegria e civilidade. Que ser urbano não quer parques?  Que ser urbano não quer praças dignas, calçadões decentes, enfim, espaços para vivenciar relacionamentos, frequentar o comércio e os serviços oferecidos, gerando emprego e renda?  Me refiro ao centro da cidade. Acontece que os cidadãos paulistanos estão encolhidos, embotados na vã esperança de que o poder público faça alguma coisa.  ESQUECE!  O poder público vive exclusivamente para si e para sua sobrevivência.  Só se for pressionado, se for muito provocado, pode sair da sua paquidermice e começar a fazer coisas.  Tipo:  vê se acorda!  Como foi com o Parque Augusta.  De novo: me refiro ao centro da cidade. Região com muitos atores fortes.  A Bolsa de Valores é no centro. A OAB, o Tribunal de Justiça, o Metrô, a Caixa, USP, Unesp, empresas, entidades, pessoas interessadas... Tem que unir esse povo e começar! A praça da Sé tem o Marco Zero.  Na verdade o que a praça da Sé tem hoje é o marco da nossa profunda incompetência. A praça da Sé não é uma praça, é uma hecatombe social. Cidadãos, precisamos começar a nos mexer!

Essa praia é pequena.  Tem que crescer!


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

LANCES URBANOS (72)

Apressado como sempre, passei hoje pelo Vale do Anhangabaú.  Apesar da reforma (que durou dois anos) ter sido inaugurada em Julho, o vale continua com todo o seu centro inacessível, cercado nas bordas por grades de contenção (matéria do G1 aqui).  A novidade foi ver funcionando os chafarizes que brotam do chão. Vi de longe, não estava com tempo nem paciência de ir mais perto...  Fiquei me perguntando: a quem vai agradar isso, meu Deus?  Na boa, é o tipo de reforma feita por arquiteto estrangeiro, que pensa que São Paulo é Estocolmo ou Moscou (tem uma coisa bem semelhante na capital russa), em que tudo em volta é lindo e organizado, então até cabe ter uma área enorme dessa assim impermeabilizada, exposta ao Sol, com chafarizes.  Só-que-não!  Aqui é São Paulo, Brasil, vivendo seus piores momentos, ambos. O entorno do Vale do Anhangabaú está deteriorado, detonadíssimo.  O abandono social dos moradores de rua e carentes é deprimente, ninguém age ali - Centro Velho e Centro Novo - tudo largado!   Como chegar ao vale sem ficar assustado e/ou deprimido? Gastaram mais de R$ 100.000.000,00 nessa reforma, e eu de novo pergunto:  a quem vai agradar isso, meu Deus? 
Vale ainda cercado, sem pedestres.




quarta-feira, 3 de novembro de 2021

LANCES URBANOS (71)

Parque Augusta.  Parque Augusta, quase um milagre, parido do esforço de muitos ao longo de muitas décadas.  Que mundo é esse em que fazer surgir um parque entre milhares de prédios é quase um milagre?  Quantas reuniões, audiências, quanta luta...  Cada cidadão que teve esperança e moveu uma palha, ou um caminhão, pra esse parque surgir, poderia dar nome ao parque.  Mas se não vai chamar “Parque Augusta Fulano, Beltrano, Sicrano, Etc”, deveria ser apenas Parque Augusta, e não “Parque Augusta nome-de-político”.  Eu ia dizer politiqueiro mas não vou. Politiqueiro é quem deu o nome.  Isso está engasgado mas vai passar, porque o Parque Augusta é muitíssimo maior do que isso.  É um oásis no centro da metrópole. É o Parque Augusta conquistado pela população.  Nos vemos no Sábado, dia 06, às 10h, na inauguração?
Obrigado a tantos que contribuíram para o Parque Augusta surgir. 
(foto: hypeness.com.br)


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

SHOW DE BOLA! (108)

Meu pai, que hoje faz 89, quando comprava jornal, era a Folha da Tarde. Porque esse, não sei. Com a escolaridade que tinha (semi-alfabetizado) poderia “ler” o Notícias Populares e eu entenderia muito bem. O fato é que, com pequenas interrupções, assino jornal desde os 18. Completou 40 anos, e nesse tempo de convivência com o diário impresso (raramente a Folha, quase sempre o Estadão), acho que não peguei mudança mais drástica do que essa que O Estado acaba de fazer: reduziu o tamanho do caderno. Lembro nos anos 1990, quando o mesmo revolucionou na qualidade das fotos coloridas, e foi um impacto ver aquelas fotos lindas no papel jornal. Essa agora talvez supere. O tamanho do jornal diminui, ficou mais elegante. É, chegava a ser constrangedor abrir o jornal em um barzinho ou café, todo mundo olhando no celular ou no tablet, e eu pré-histórico com aquele jornalzão difícil de dobrar, quase um papelão. Agora não, mais pocket, apresentável. Na Europa são desse tamanho, “berliner”, chique. Ainda estou acostumando a vista com o novo formato, afinal ela se acostumou com aquela navegação de olhos pelas colunas, pela páginas, sempre de trás pra frente (isso permanece). As mudanças editoriais foram bem pensadas. O conteúdo enxugou um pouquinho, mas as matérias se valorizaram, muitas ganhando página exclusiva. O meu querido Quiroga ficou (se tivesse saído eu cancelava a assinatura na hora), já vi que ficaram Nogueira, Bucci, Cantanhêde e outros que gosto. Bem, o jornal diminuiu, e se diminuir mais, desaparece, como alguns cogitam. Não creio. Talvez esse novo formato até ressuscite leitores para o jornal impresso, sou suspeito de dizer, um prazer difícil de perder...

Comparando o novo formato do Estadão impresso.


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

LENDO.ORG (47)

Inflação não tem mistério: quem tem poder aumenta preço.  Quem não tem – leia-se, o consumidor – paga.  E como as coisas que mais precisamos são as que todos precisam, a procura é enorme, então, repito, não tem segredo:  dá-lhe inflação.  O engraçado é que quase não se ouve mais falar em “pechinchar”, pedir descontos...  Compramos comodities – leite, gasolina, pãozinho, arroz, feijão, eu ia dizer carne mas isso está mais pra extravagância...  Eu pelo menos não mando no preço de nada... a não ser no preço de livro nos sebos.  Quero ser amigo de todos os donos de sebos, bato papo, mas na hora de arrematar a compra:  amigos, amigos, negócios à parte.  Foi fazer careta quando o sebista falou o preço das memórias do István Jancsó, que o preço despencou na hora!  Ele é um comerciante experiente, sabe que comprador de livro usado assim presencial como eu não é toda hora que aparece, e que eu não ía levar por aquele preço...  Me olhou o João Batista (há 30 anos no ramo, foi vendedor do Brandão), afagou os quatro volumes e mandou:  leva tudo por 100!  Só o livro do historiador era mais que isso...   Deu peninha mas... amigos, amigos, negócios...

E agora biblioteca, quais livros saem pra entrar esses?



domingo, 10 de outubro de 2021

LENDO.ORG (46)

Tenho ido muito a sebos, mas a Livraria da Tarde é um caso à parte.  Taí uma livraria agradável, bem servida de títulos (aqui), com atendimento afetuoso, e a dona, a Mônica, mineira de Juiz de Fora, um encanto...  Livraria tão aconchegante que a gente fica sem jeito de pedir desconto... Navegava eu na seção de literatura estrangeira, quando Adriana, da mesa de lançamentos, pergunta: “Conhece esse livro do Boris Fausto?”  Como assim, o Boris tem livro novo?  Folheio nos créditos, é de 2021...  Que coisa, o Boris não me avisou!  Logo a mim, que lhe disse que conheço mais a vida dele do que ele mesmo, afinal já li seus outros três livros de memórias...  duas vezes cada! Vai ver que ainda não teve lançamento, engoli em seco...  Fiquei procurando a palavra certa pra definir o sentimento...  A gente é tão melindroso né?  Me vingo pensando: “ele me deu ouvidos quando disse lhe que devia escrever mais um livro de memórias, tão prazerosos são de ler"...  A gente é tão pretensioso né?  Mas deixei pra lá, comprando: quer saber, vou ao lançamento e levo pra ele autografar... O outro é uma coletânea de contos do Hesse, meu mais-querido nos últimos anos.  A questão agora é: quais dois saem da biblioteca??



sexta-feira, 1 de outubro de 2021

LENDO.ORG (45)

Dispensei mais de 100 livros, retirados a fórceps da biblioteca, para que os novos pudessem entrar. Pensei que ia tomar vergonha e aquietar consumo, mas que nada!  Foi entrar no sebo Machado de Assis, no centro, pra sair com esses: Junto ao Rio Tâmisa, relato do hoje imperador do Japão, então príncipe Naruhito, sobre seus dois anos de estudo em Oxford.  Vou ler invejando esse "sabático", que eu topava nem que fosse na Unesp de Assis, que tem um curso de literatura reconhecido... Mulheres de Cabul.  Harriet Logan fotografou-as oprimidas durante o taliban e depois, (quase) libertas, quando o regime caiu.  Agora o regime voltou, lamentável.  E A Vontade de Viver, de Wilhem Stekel, discípulo de Freud, parece que mais espiritualizado. Não sei. Não lerei nenhum agora.  Vão pra estante.  E quais saem??



quarta-feira, 22 de setembro de 2021

LANCES URBANOS (70)

A astrazeneca sumiu com alarde, voltou sem avisar, descobri e fui tomar a 2ª dose na Vila Nova Conceição. Ao sair do posto ouço um carrilhão repicar e o começo das surpreendentes badaladas.  Nove batidas, cravando 9 da manhã.  Fui procurar a origem e na rua ao lado (João Lourenço) dei com a paróquia São Dimas (o bom ladrão, crucificado ao lado de Cristo).  Sino não vi, parece que tinha um megafone no alto do prédio, mas não importa, me vi morando num daqueles apartamentos colossais da V. N. Conceição, com um enorme cômodo só pra instalar a biblioteca, poltrona confortável, de lá escutando esse anacrônico toque das horas ... Desperta homem!  Ao menos um bom motivo para postar no Brittadeira após longo jejum, porque a correria está insana...



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

SAUDADES... (45)

Hoje partiu Tarcísio. Partiram antes os Cláudios, Cavalcanti e Marzo.  Três grandes da teledramaturgia brasileira.  Cada um com seu estilo.  Claudio Cavalcanti, com sua doçura nervosa.  Claudio Marzo, mais soturno, tendendo para o feroz.  Tarcísio Meira, o galã por excelência, distante em sua altura quase olímpica. Os três protagonizaram minha primeira novela, aos 7 anos, em 1970.  Fui noveleiro na infância e pré-adolescência, no período em que Tupi e Globo brigavam pelas novelas mais carismáticas.  Era novela pra dar com pau, às 18, 19, 20h30 e 22horas. Cenas inesquecíveis.  Mas se num estalo me pedissem a novela que mais ficou na memória e no coração, seria essa primeira, Irmãos Coragem. Muita ação, muita emoção, maniqueísmo bem X mal em preto e branco.  João, o primogênito, Tarcísio.  Saudades...
Claudio Cavalcanti, Tarcísio Meira e Claudio Marzo.  Irmãos Coragem.
(foto: noticiasdatv.uol.com.br)



quarta-feira, 28 de julho de 2021

SHOW DE BOLA! (107)

Há muito tempo digo que skate é esporte, entre os 3 mais praticados no país depois do futebol e da corrida (o famoso "cooper").  Já são cinco décadas de prática intensa (em 2000 lancei o livro A Onda Dura - Três Décadas de Skate no Brasil) e história colorida (com fases dark como é natural nesse esporte rebelde), culminando com as duas gloriosas medalhas de prata na modalidade street (e não acabou, semana que vem tem a modalidade park).  Legal, mas na real eu não ia postar nada (ao contrario da Rio 2016, essa Olimpíada não está no meu radar, ocupado com outra encrencas), mas quando até a sóbria rádio Cultura FM apresenta uma longa crônica sobre a fadinha Rayssa Leal, e a capa do caderno Quarentena do Estadão também trata da prata de 13 anos, pensei, puxa, foi mesmo um dia legal aquela tarde de Domingo do distante ano de 1978, em que cheguei no Ibirapuera pedalando uma Caloi 10, e saí de lá vidrado em ter um skate, ao assistir uma campeonato na marquise: feras faziam manobras que eu não imaginava que existissem...  É como hoje, quando tantas crianças vão descobrir as possibilidades do skate ao ver as manobras de Rayssa e Kelvin (o nosso Hoefler moreno, nada alemão como insinua o nome), e já querem praticar.  Eu então pratiquei.  Dos 15 aos 18 vivi intensamente o skate, me marcou a vida.  Verdade que marcou mais meu irmão Fábio Bolota, que faz do skate profissão até hoje, está com vinhetas na 89FM. Vida longa ao skate brasileiro!

Rayssa Leal em Tóquio, prata.  (foto: @worldskate)


sábado, 24 de julho de 2021

LANCES URBANOS (69)

Botaram foto na estátua do Borba Gato. Ainda bem que ela é de concreto armado, e com dois trilhos de trem em sua estrutura, chamuscou, mas não vai cair.  Faz parte da história brasileira, no séc. 17 desbravou o território levando a Minas e Goiás, terras paulistas até ganharem vida própria.  Faz parte da história paulistana, quando em 1963 a estátua foi erguida e admirada pelos moradores, uma referência para quem passava o Brooklin e se aproximava de Santo Amaro, tempos de corações menos turbulentos. Tosca?  Kitsch? Discutível.  Símbolo de supremacistas brancos? Vamos discutir isso, cambada, antes de tacar fogo?  Ou que tal antes assistir à aula do Eduardo Bueno (quem vai negar que ele é um historiador libertário) sobre Borba Gato (aqui)? 

Aula de Eduardo Bueno sobre Borga Gato.


terça-feira, 20 de julho de 2021

LENDO.ORG (44)

Quando estive no apartamento do editor Gumercindo Rocha Dorea, há quase 40 anos, ele já tinha mais idade do que eu hoje.  E menos livros nas prateleira, porque, consumidor compulsivo deles (sei como é isso), foi muito mais acrescentando do que tirando, até ter quase todo o confortável apartamento na Aclimação tomado de livros. Sei disso porque, em Fevereiro, aos 96 anos, o sr. Gumercindo se foi (aqui)...  Longa vida dedicada a lançar escritores (simplesmente Nélida Piñon e Rubem Fonseca entre eles) e divulgar ficção científica, de que foi um dos editores pioneiros.  Seus filhos Guga (de quem sou amigo há quatro décadas) e Tera me receberam para rever a biblioteca e,  carinhosamente, me presentearam com esses da foto. Não fizeram cerimônia, porque havia ali mais de 7 mil livros, avaliou um neto do sr. Gumercindo. Obrigado! Me proporcionaram a alegria de ter um livro que cobiçava há tempos, Cascalho, de Heriberto Sales, romance ambientado na terra de meu pai, Chapada Diamantina, e Itabuna, Minha Terra!, com essa exclamação mesmo, terra da minha mãe.  Eu sou um baiano produzido em Sampa...   Bem, os mais valiosos livros do seu Gumercindo estão indo a leilão (aqui).  Nos vemos na sala virtual de lances! 

Satisfação dos livros ganhos da biblioteca do sr. Gumercindo.



quinta-feira, 15 de julho de 2021

LENDO.ORG (43)

Antigamente era assim: a gente lia uma resenha no jornal, se interessava e ia na livraria comprar.  Antigamente nada!  Foi assim mesmo: li a resenha no Estadão, no ato me interessei.  Mas aí pensei que seria um bom presente pra pedir de dia dos pais...  Só que não. Passando pelo Itaim Bibi, não resisti à tentação de esticar até a simpática livraria Vírgula e desafiá-los:  teriam um exemplar do recém-lançado livro da professora Leyla Perrone-Moisés?  Tinham!  Levei.  Leyla é uma das mais experientes e conhecidas professoras de literatura da USP, e relata a convivência direta que teve com Cortázar, Leminsky, Barthes, Saramago e outros clássicos.  Memórias é comigo mesmo.  Já o recém-lançado de Eugênio Bucci, a Vírgula não tinha.  Fica a dica pras filhas...  ET.: li o 1º capítulo, em que Leyla conta das aulas de pintura com o grande artista plástico Samson Flexor. Ela se deixou influenciar pelo abstracionismo geométrico do pintor, que descobri certa vez no terreno do Hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã.  Lá existe um grande trabalho dele, numa capela.  Meio abandonada, torço para que não desapareça.. 
Hoje no Itaim Bibi. 



segunda-feira, 5 de julho de 2021

LENDO.ORG (42)

Ganhei os 50 primeiros números da revista Cult, não me aguento de ver a pilha de revistas entre as pilhas de livros, ali no canto. Pura alegria.  Nascida em 1997, a Cult então só tratava de literatura.  Hoje está no nº 271 e estendeu bem sua abrangência: arte, cultura, filosofia, literatura e ciências humanas. Um amontoado...   Devo esse presente prazeroso ao Guga e à Tera, amigos que estão administrando a vasta biblioteca de mais de 6.000 volumes que seu pai, o editor Gumercindo Rocha Dorea deixou...  Conto mais sobre o seu Gumercindo quando falar dos livros que também ganhei. Como dizem, mais feliz do que pinto no lixo, vou saborear revista por revista, informações atemporais...



quinta-feira, 1 de julho de 2021

LIXA GROSSA & CIA LTDA (57)

Com a lucidez de sempre, Bucci tenta entender essa indecência. 

Na quinta-feira passada, numa aglomeração eleitoreira que promoveu no Rio
Grande do Norte (aqui), o presidente da República segurou um garotinho no colo e,
num gesto obsceno, abaixou-lhe a máscara. A cena estarrece pelo que tem de
imoral e abusivo. A mão do poder, com a displicência de um aceno, expõe um
inocente ao contágio. Nota-se um quê de pouco-caso. O chefe de Estado parece
à vontade para desnudar o rosto infantil, sem sinal de respeito, sem a menor
cerimônia; simplesmente puxa para baixo peça que cobre a boca e o nariz da
criança.
 
O menino, que, vestindo uma camisa amarela, saiu por aí para acabar num
abraço genocida do governante, representa o Brasil inteiro. O vídeo é o
atestado definitivo da miséria ética em que a Nação se deixou encarcerar.
Aquilo somos nós. O País foi sujeitado pelo egoísmo autoritário – o egoísmo
de quem manda. O único valor moral que esse autoritarismo reconhece é uma
noção bastante primária de “liberdade”: a liberdade dos outros não existe,
só o que importa é a “minha” liberdade. Os outros serão livres apenas para
concordar comigo e, caso se atrevam a discordar, serão declarados “inimigos”:
maus brasileiros, impatriotas, mesmo que não tenham mais do que 6 ou 7 anos
de idade.
 
Essa fórmula de moralidade é bruta, estulta, opaca, rasa e inculta. Trata-se
de um código de conduta prepotente e xucro, segundo o qual “eu sou livre
para não usar máscara e qualquer pessoa que use máscara na minha frente está
atentando contra a minha liberdade”. Eis por que o presidente da República
recebe como um desaforo a presença de qualquer pessoa que vista uma máscara
na frente dele, mesmo quando essa pessoa é uma criança frágil.
 
Estamos, é claro, falando da liberdade dos que não admitem a liberdade do
outro – ou da liberdade daqueles que se armam para acabar com a liberdade de
todos. Estamos falando da extrema direita antidemocrática, essa que no
Brasil responde pelo nome de bolsonarismo, que sequestrou a palavra
liberdade dos dicionários. Na cabeça desse pessoal, só eles têm o direito de
falar em liberdade, pois só eles defendem a liberdade. “Eu sou livre para
não usar máscara”, grita um. “Eu sou livre para não tomar a vacina”, secunda
o bajulador. Não lhes ocorre que a questão possa ter outras dimensões. Eles
não dispõem de aparato cognitivo para tanto. Basta ver e ouvir o presidente
da República, que não alcança nenhuma outra dimensão além da encerrada no
individualismo mais torpe.
 
Não ocorre a nenhum deles que a liberdade do brucutu que repudia a máscara
não pode valer mais que o direito do outro de não ser contaminado. Eles não
enxergam o sentido do respeito pela outra pessoa. Não conseguem compreender.
Não percebem que, se quisermos viver em sociedade, a liberdade de um
indivíduo – digamos, a liberdade de ser estúpido – não pode ser posta acima
da liberdade que os outros têm de se proteger contra a pandemia. Não
entendem que a liberdade individual não inclui o direito de oferecer água
envenenada para os semelhantes, assim como não inclui o direito de sair por
aí aspergindo coronavírus sobre o rosto de crianças indefesas.
 
No fundo, eles não divisam o sentido da palavra liberdade além da fumaça da
pólvora. Não obstante, são eles que nos governam, arrancando de nós o pouco
que temos de proteção. Que façam isso em nome da liberdade é apenas mais um
capítulo da nossa tragédia imerecida.
 
Segundo esse jeito de pensar – que, melhor dizendo, é um jeito de não
pensar, pois, se pensasse, não teria o jeito hostil que tem –, a liberdade
de um começa onde termina a liberdade do outro, e isso é tudo. Segundo esse
credo (cruz, credo), só é livre quem agride e confronta a liberdade do
outro – e estamos conversados. Nisso consiste o primarismo atroz desse tal
jeito de (não) pensar, segundo o qual o exercício da liberdade é uma guerra
sangrenta de hordas contra hordas.
 
No entanto, se quisermos ter democracia, precisamos pensar além disso, ou
não seremos capazes de compreender que a minha liberdade começa não onde a
liberdade do outro termina, mas justamente onde a liberdade do outro também
começa (salve, Cornelius Castoriadis). Eu só sou livre de verdade, livre
além das minhas estreitezas individualistas, se o outro também for livre, na
mesmíssima medida em que eu só sou saudável se este outro, ao meu lado, ou
aquele outro, distante de mim, forem, eles também, saudáveis. Eu só sou
livre, no fim das contas, se o mundo for livre junto comigo. A mísera
dimensão individualista não dá conta da grandeza da liberdade. Aliás, o
individualismo não dá conta nem mesmo de entender que, contra essa pandemia,
não existe imunização individual; a imunização individual só tem valor
porque realiza a imunização coletiva, que é o único patamar sanitário
realmente seguro.
 
Se quisermos ter democracia, precisamos saber que uma sociedade não é um
rebanho de engorda num pasto aberto à custa de desmatamento. Só sou livre se
me libertar da ignorância. Eu só sou livre se souber que, como autoridade
pública, não tenho o direito de remover uma só peça dos trajes de uma criança.

(de Eugênio Bucci, no Estadão de 1º/07/21)

Sem palavras...  (reprodução da internet).


terça-feira, 29 de junho de 2021

LANCES URBANOS (68)

São Paulo entra em sua 4ª fase de transformações radicais, se me permitem a leviandade de continuar a reflexão que Benedito Lima de Toledo abordou em seu livro São Paulo:  três cidades em um século.  A 1ª fase foi a de taipa, que durou 350 anos, da fundação até o início do século 20, quando começa a 2ª fase: a transformação produzida pela riqueza do café e o crescimento impressionante da cidade.  Essa seguiu até o final da 2ª Grande Guerra, quando Toledo viu São Paulo entrar na 3ª fase, com os grandes empreendimentos imobiliários, em que “os símbolos urbanos, a imagem da cidade, os monumentos históricos, deixaram de entrar na composição das preocupações das autoridades”.  Toledo morreu em 2019 (aqui) e não teve tempo de registrar em livro sobre a chegada da 4ª fase de transformações, a dos gigantescos empreendimentos imobiliários, em que os novos edifícios atingem tamanhos ciclópicos, na largura e na altura.  Edifícios parrudos, que precisam despudoradamente eliminar quarteirões inteiros para surgir.  (Vi isso claramente ontem, no Brooklin, as casas de um quarteirão inteiro sumiram, entre as avenidas Portugal e Santo Amaro).  Pois é.  A cidade, adoentada há muito por seus excessos, vê agora surgir demandas exponenciais, de toda sorte de infraestruturas, desconsiderando a sustentabilidade ampla da urbe. Todos os paulistanos hoje relatam exemplos de casas e vilas extintas, tráfego de caminhões carregando terra e bate-estacas petulantes.  Porém não são todos que anteveem a grande confusão que tudo isso vai gerar.  E não só na situação da pandemia terminar e todos os carros de praxe voltarem às ruas.  É também a demanda por água e por esgoto.  É também a eliminação do verde e do horizonte por tantos empreendimentos.  É a demora absurda – leia-se desinteresse – em criar novos parques.  São os resíduos sólidos sem nenhuma ação ou planejamento.  É o centro da cidade absolutamente abandonado.  Mas é, para efeito dessa rápida reflexão, a chegada com tudo da 4ª fase de alterações da cidade, com a indústria imobiliária tocando seus projetos em intensa competição de incorporadoras e construtoras, sem a batuta ativa de uma coordenação. Sem ao menos a cobrança de compensações à altura do impacto causado.  E sem a batuta porque...  qual  é mesmo o nome do prefeito que vai tocar a cidade mais de 90% da gestão?  Mas isso é assunto pra outra postagem.  Querido Benedito Lima de Toledo: quem dera eu tivesse a sua capacidade, pra relatar, como é preciso, essa chocante 4ª fase de transformações da cidade.

Sobradinhos esperando sua vez de sumirem.  Brooklin - 28/06/21


sexta-feira, 18 de junho de 2021

LENDO.ORG (41)

"Com os primeiros ganhos do emprego, comprei o meu objeto do desejo, a coleção dos Clássicos Jackson, portentosa obra em 40 volumes. Foi minha primeira propriedade."  Está na autobiografia de Boris Tabacof, "Perdidos & Achados".  O executivo se foi nesta semana, aos 91 anos, depois de uma longa carreira de êxitos, cujo ápice foi a atuação na gigante de papel Suzano, da qual foi presidente do conselho.  Dei com esse livro em um sebo, levei e quando ataquei não parei até a última página.  Escrito sem pompa, mas não sem tempero, por quem valorizava o livro e a leitura.  "Nunca tive uma bicicleta, mas meu pai me comprou o Tesouro da Juventude".  E assim começou, rumo ao sucesso. 



domingo, 13 de junho de 2021

LENDO.ORG (40)

Hoje Fernando Pessoa faria 133 anos.  Mas isso é menos importante do que dizer que ele se foi aos 47 anos, vida curta e intensa, de pensamentos, logo sofrimentos, e breves prazeres.  Esse Livro do Desassossego, na belíssima edição do Clube de Literatura Clássica (recomendo associar-se, aqui) expõe em prosa a filosofia do poeta, através de seu heterônimo menos conhecido, Bernardo Soares.  É ler uma página por dia.  E no dia seguinte reler... "Deus é o existirmos e isso não ser tudo." Ai... Bem, também hoje o Brittadeira completa 8 anos.  Mais de 800 postagens, etc etc.  Ah, é dia de Santo Antônio!  Se não é a postagem da amiga Regina Maura, passava batido!  Que católico desleixado!...



quinta-feira, 10 de junho de 2021

LENDO.ORG (39)

Esses livros relatam as três aventuras que lançaram Amyr Klink aos píncaros da fama, merecidamente: atravessar o Atlântico a remo, hibernar meses na Antártida (sozinho) e circun-navegar o continente gelado (em equipe). Sonhar, planejar e executar.  Enfim, atrever-se. Mas o que gosto mais de Amyr é a frase, pinçada de um deles: Descobri o mar lendo.  Dizer mais o que? Os três estão autografados e acabei de emprestar.  Desapego?  Coisa nenhuma!  É confiança mesmo. Sei que voltam. (Ou melhor, sei onde buscar rsrs.)



quinta-feira, 3 de junho de 2021

LIXA GROSSA & CIA LTDA (56)

No concerto das nações, o Brasil é insuperável no quesito "nonsense".  Cartinha no Estadão impresso de hoje. 



sábado, 29 de maio de 2021

SAUDADES... (44)

Arquiteto pra mim tem que ser urbanista. Claro que é bom ter arquiteto pra desenhar uma casa confortável ou um prédio elegante.  Mas hoje o que precisamos mais, nesse mundo tão urbano, é de arquitetos-urbanistas (ou "arquitetos de cidades") que busquem reverter a profunda degradação dos grandes centros. Como sempre buscou Jaime Lerner, três vezes prefeito da capital paranaense. Todas as cidades deveriam ter um sonho e perseguir esse sonho.  Em Curitiba nós tivemos vários sonhos. Ópera de Arame, Jardim Botânico, BRT...  Um cara cheio de ideias!  Por exemplo: na periferia, por que não trocar o lixo domiciliar por vale-transporte?  Enquanto isso aqui em Sampa... Ah, quem dera São Paulo, nos últimos 50 anos, tivesse como prefeito ao menos um arquiteto-urbanista com essa vocação de dar dignidade à cidade!  Mas o que tivemos como prefeitos? Políticos!  Quase nenhuma inspiração a serviço da cidade... Quando soube do passamento de Lerner, busquei esse livrinho na estante, onde li: Uma coisa é certa:  a cidade do futuro não pode conviver com a miséria do presente, sob pena de continuar sendo uma cidade do passado.  Mais do que nunca, é isso. 

Jaime Lerner (1937 - 2021)


quarta-feira, 26 de maio de 2021

LANCES URBANOS (67)

O prédio-sede do Santander, no Itaim, sempre usa sua fachada para valorizar datas como Natal, Páscoa, Dias das Mães e outras efemérides.  Em uma busca rápida no Google não consegui identificar a razão dessa "postagem" com livros na fachada daquele prédio, clicada ontem.  Não entendi, mas gostei. 




quinta-feira, 20 de maio de 2021

LANCES URBANOS (66)

Pergunta ao misterioso vice-prefeito que assumiu a cadeira principal e vai nela por 90% da gestão: vai fazer algo pela cidade adoentada?  Vai ser prefeito pra valer?  Ou só vai fazer politicagem?  Cartinha no Estadão impresso de hoje. 



segunda-feira, 17 de maio de 2021

LENDO.ORG (38)

Sim, era Domingo, mas bati o olho e confirmei que a livraria Gaudi estava aberta, aproveitando o movimento da praça Dom Orione e seu mercado de pulgas. Ok, vou lá!  Meu pai está morando no Bixiga, na casa do meu irmão.  Peguei-o para almoçar, e antes do restaurante fiz um pit-stop de 20 minutos na livraria, que é mais um sebo especializado em arte e arquitetura (com um pouco de literatura), funcionou muitos anos na rua Augusta e agora está numa discreta porta da rua Rui Barbosa.  Quem olha a livraria de fora não imagina a quantidade de livros que tem no galpão atrás, bastando passar uma porta...  Ainda irei lá com tempo, pra navegar naquele tsunami de livros, disse à sócia risonha, dona Eva.  Na mesa de promoções peguei esses dois:  Como falar de livros que não lemos?  Na introdução Bayard prometeu me revelar um mundo novo, pois defende que não é obrigatório ler um livro, às vezes sequer abri-lo, para falar com propriedade sobre ele.  Sei lá como provará isso, mas claro fiquei interessado.  O outro é de Lygia Fagundes Telles. As Meninas. O único que li dela, há décadas, e não lembro (nem tenho) mais.  Como não ter um LFT na biblioteca de 1000 livros??  



sexta-feira, 14 de maio de 2021

LENDO.ORG (37)

O livro chegou ontem e atropelou os que estavam nas pilhas (sim, são três pilhas de novos livros!). Até escanteou o da Eliane Brum, que tenho amado. Já devorei 4 capítulos. É que o Flávio Gomes escreve prá lá de bem. Tem o dom da escrita. Suas crônicas são divertidas, sacadas, informativas, tudo que faz de uma crônica um prazer de leitura. Já me deliciara com O Boto do Reno, com textos dos seus muitos anos de viagens cobrindo a F1, e o seu romance Dois Cigarros (que ainda não é o grande romance que escreverá, pois só se escreve um grande romance com dedicação exclusiva, coisa que FG nunca teve, sempre inventando coisas...).  Esse Ímola 1994 traz não bem crônicas, mas gostosos relatos sobre sua vida como jornalista, lances de São Paulo, política, esportes...    Recomendo muito o Ímola 1994, à venda na editora Gulliver (aqui). 


quarta-feira, 12 de maio de 2021

MAMAE

Hoje mamãe completaria 89 anos. Essa baiana de Itabuna nasceu Maria José, mas por muitos era conhecida só como dona Zete.  Um dia me disse que era por ser parecida com a cantora Elizete Cardoso.   Veio com 20 anos para São Paulo, orgulhosa de vir de avião, quando a maioria de lá pegava um ita ou um pau-de-arara...  Veio num convênio, para estudar enfermagem...  Mais paulistana que muitos, voltou apenas uma vez para ver a família no Sul da Bahia.  Hoje fui visitá-la no cemitério Congonhas.  Batemos papo largo, como todo dia 12 de Maio dos últimos 10 anos.  Na hora de ir embora minha porção repórter não resistiu e inquiriu funcionários do cemitério, derradeiro termômetro da pandemia.  Sim, tem havido muito mais enterros.  Um me disse que "no mês passado" foram 260 enterros no mês, quando a média são 160.  Na floricultura a afirmação que a 2ª onda, nos primeiros meses deste ano, foi bem pior que a 1ª...  Que fazer, senão cuidarmo-nos?



quinta-feira, 6 de maio de 2021

LIXA GROSSA & CIA LTDA (55)

Antigamente era lugar comum dizer que as elites queriam o povo sem educação e sem cultura, para ser melhor manipulado.  De uns 30 anos para cá o retorno da democracia, o aumento das políticas de inclusão, enfim, os novos tempos, deram uma maquiada nessa situação. Só que...  De dois anos para cá a coisa ficou feia e escancarou.  A elite rastaquera quer mesmo a destruição da educação e da escola pública, basta só ver o naipe dos três últimos ministros da Educação.  Quando vi essa Secretaria Municipal de Educação em Silveiras, semana passada, pensei que uma assim, desse tamanhozinho, já faria a diferença em Brasília...   Como viver em sociedade sem educação?

Em Silveiras, no vale do Paraíba. 


quinta-feira, 29 de abril de 2021

LANCES URBANOS (65)

Poucas coisas me impactaram tanto - 50 anos acompanhando de perto a cidade - quanto essa excrescência cometida no Paraíso.  A reportagem do SPTV (aqui) flagrou o absurdo, em parceria com o arquiteto Gabriel Rostey, na esquina das ruas Abílio Soares e Desembargador Eliseu Gabriel.  No finzinho da matéria está o destaque a essa destruição da história da cidade.  Chamar de arquiteto o cara que fez isso é um desrespeito com essa categoria profissional.  A imagem é a mais completa tradução desse momento da sanha destruidora das incorporadoras e construtoras.  E quando não destroem, fazem esse lixo. Grotesco. Tristeza profunda. 

Matéria do SPTV em 24/04/2021.


sexta-feira, 23 de abril de 2021

LENDO.ORG (36)

No mundo editorial existe um país muito rico e por vezes esquecido:  o das editoras das universidades públicas. Começa pelas editoras da USP (Edusp) e da UNESP (Editora Unesp), com centenas de títulos interessantes, e se espraia por todo o Brasil, com as editoras das universidades federais e estaduais lançando milhares de títulos, grande parte gerada em sua produção acadêmica. Com subsídios, publicam livros que as editoras comerciais recusariam. Numa feira de livro virtual topei com a Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá (aqui).  Gostei de uns títulos que chegaram hoje, 23/4, dia internacional do livro, criado na Catalunha em homenagem a Cervantes.  Bem, não conheço o Norte do Paraná, com suas Londrina e Maringá de nomes charmosos, mas os livrinhos chegaram de lá. 

Livros da Editora da Universidade Estadual de Maringá




domingo, 18 de abril de 2021

NO ACERVO DO ZNnaLinha... (2)

A Freguesia do Ó comemorava 431 anos (eta bairro antigo!) com muitas atividades culturais na Casa de Cultura Salvador Ligabue.  Era 08/2011 e não tínhamos nenhum motivo para ter vergonha de usar as cores verde-amarelas.  Muito pelo contrário.  Esse tempo vai voltar.  Do acervo de fotos do portal. 

Alunas de uma escola de dança na Freguesia do Ó (2011)


quarta-feira, 14 de abril de 2021

LENDO.ORG (35)

Como a editora Arquipélago fez isso, não sei: comprei 5 livros dela via Feira da Unesp no dia 8 (5ª-f), e eles chegaram na manhã do dia 10 (Sáb.).  Uma proeza considerável, sendo a Arquipélago uma editora de Porto Alegre!  Enfim, veio Aforismos, de Karl Kraus.  Tem que ter um parafuso a mais ou a menos para ser um grande aforismista. Não é verdade que não se pode viver sem uma mulher. Apenas não se pode ter vivido sem uma, tascou o Kraus, entre muitas.  Veio Elis, do gaúcho Arthur de Faria, biografia musical da cantora maior. Veio dois de crônicas de Pedro Gonzaga (desconheço, vou arriscar) e de Luiz Ruffato (também desconheço, mas lembro da polêmica que causou com seu discurso na Feira de Frankfurt, em 2013, colocando o Brasil no seu devido lugar intolerante e injusto.).  Veio Meus Desacontecimentos, de Eliane Brum, uma jornalista gaúcha que escreve pra caramba! Tirei o chapéu pra Arquipélago!
Em menos de 48h, de Poa pra Sampa


segunda-feira, 12 de abril de 2021

NO ACERVO DO ZNnaLINHA... (1)

Quando, navegando pelo acervo, dei com essa foto, decidi abrir uma seção e resgatar as imagens mais interessantes batidas durante os 10 anos de trabalho no portal ZNnaLinha, de 2007 a 2017.   São mais de 10 mil fotos, de centenas de coberturas nos 15 distritos da Zona Norte.  Ao saber que Garry Kasparov, o maior campeão de xadrez de todos os tempos, estaria no Anhembi para fazer uma simultânea com alunos de escolas municipais, parei tudo e corri pra lá.  Primeiro, ver de perto o mítico campeão soviético, que ganhou até do computador Blue Chip da IBM.  Segundo, prestigiar essa iniciativa tão bacana do governo Kassab, Setembro de 2011.  Imagine a emoção dessas crianças... Será que ainda jogam?  Eu enfrentei o Kasparov! É pra contar pros netos!  

Kasparov no Anhembi, em 09/2011.


sábado, 10 de abril de 2021

LENDO.ORG (34)

Já estão com uma amiga, leitora ávida como eu, esses dois romances do Kazuo Ishiguro. Os Vestígios do Dia fez grande sucesso nas telas  mas, como é comum em filmes marcantes, o livro supera de longe.  Tanto gostei que na sequência mergulhei n`O Gigante Enterrado. Estranhei de começo, porque dois livros um bom bocado diferentes na temática, ainda que ambientados na mesma Inglaterra rural.  Mas na medida que avançava O Gigante, fui descobrindo o que os assemelhava e fascinava: uma escrita fácil, fluida, extremamente elegante.  Nascido no Japão e desde os cinco anos vivendo na Inglaterra, é como se Kazuo conseguisse unir o melhor do rigor disciplinado dos ingleses com a serenidade da observação japonesa.  Não à toa, ganhou o Nobel de Literatura de 2017. Fiquei fã, vou atrás do seu terceiro romance. 

E as capas lindas da Companhia das Letras?


domingo, 4 de abril de 2021

LENDO.ORG (33)

Amanhã (5/4) começa a III Feira do Livro da UNESP (aqui), dezenas de editoras com 50% de desconto. Depois de um Março com rombo no orçamento, Abril já começa despedaçando a poupança!  Minha cachaça não é barata...  Mas a preocupação maior nem é essa: a biblioteca está lotada!  Feio falar assim, mas é a real: minha biblioteca tem mil livros e esse é um número que quero preservar, por espaço físico e sanidade mental. Assim,  livro entra, livro sai.  Resultado: tive que tirar da prateleira essa lindíssima coleção Atlas National Geographic, da Abril.  Wikipedia ou GoogleMaps não substitui o prazer das fotos primorosas, das informações gostosas que a coleção traz de todo o planeta físico e político.  Porém preciso de espaço para o que vai chegar...  Claro, se toda a dificuldade da vida se resumisse a isso, tava fácil viver, mas com dor no coração pergunto: alguém se interessa por essa coleção?  Entrego o presente sem custo na cidade.  


quinta-feira, 1 de abril de 2021

LENDO.ORG (32)

Disruptura é isso: quase ninguém mais lê livros. Será que sou injusto? Tanta gente que eu conheço faz parte de clubes de leitura... Só que eu conheço tão pouca gente, e são gente como a gente, que gosta de livros... Um punhado de gente. Quase ninguém. Sei que tem crianças e jovens que amam livros, e isso me emociona demais. São os poucos que conseguem desgrudar das telas e telinhas e dar atenção aos livros impressos, suprema experiência de leitura. Tá, essa instalaçao (não sei onde nem por quem) é super-transada, bonita, o cara é um artista, mas no fundo me dói, porque a primeira coisa que penso é: já que ninguém mais lê esses livros...

quinta-feira, 25 de março de 2021

SAUDADES... (43)

Da biblioteca de 1500 livros de Edson Calió, adquiri esses 15 títulos. 1%. Foi mais ou menos isso, 1%, o que consegui absorver da sabedoria do querido mestre de Alquimia e Xamanismo, nos três anos em que frequentei seu instituto. Edson se foi há dois meses. Saudades. Que bom ter esses livros dele comigo. 


segunda-feira, 22 de março de 2021

LENDO.ORG (31)

Maurício me presenteou com o A Teus Pés, contei aqui, e quis presenteá-lo também.  Mandei lista com 30 livros para ele escolher à vontade.  Pinçou três.  1913 - Antes da Tempestade, misto de ficção e documento que relata a Europa no ano anterior ao início da 1ª GM, tendo como personagens os intelectuais da época.  Onde estavam Picasso, Kafka, Freud, Chaplin, Tomas Mann, Virgínia Wolff, entre outros, como interagiam e viviam o momento. Se Essa Rua Fosse Minha, de Cacilda Ferreira, que colocou em livro o programete que tinha na rádio Eldorado, cada dia contando a história de um logradouro paulistano. E Mulheres da Minha Alma, de Isabel Allende, do qual nada posso falar, porque quem adora e lê todos da chilena é a Adriana. De quebra, porque achei o Mau muito humilde de escolher só três, foi Do Rock ao Clássico, crônicas em jornal escritas por Arthur Dapieve, que está todo dia na GloboNews falando de cotidiano e manja muito de música. Já estão com o Mau.  Enjoy!


domingo, 21 de março de 2021

LIXA GROSSA & CIA LTDA (54)

Cartinha no Estadão impresso de hoje.  Procela:  tempestade marítima, por extensão tumulto, agitação.  Na cartinha foi Tempestade. Tudo bem, procela é um bom sinônimo, mas tem horas que O Estado de S. Paulo parece A Província de S. Paulo!  Mas isso não importa.  O que importa é que não dá mais!!

No Estadão impresso de 21/03/21


quarta-feira, 17 de março de 2021

SHOW DE BOLA! (106)

Tão lindo quanto esse golaço, é a categoria da descrição da jogada pelos dois craques gaúchos, Falcão e Escurinho. Artistas. Desde criança lembro desse gol, mas não conhecia essa rememoração detalhada.  Comparem o nível dos craques do passado com os novos "mitos" do pedaço.  Minha nossa!  Esse gol, sozinho, me emociona.  Assistindo esse vídeo de três minutos, eu choro, como se lesse uma página maravilhosa de Herman Hesse ou ouvisse a 9ª de Beethoven. Não deixe de ver, aqui, um momento sublime do futebol brasileiro. 

Golaço!  Internacional rumo ao título brasileiro de 1976,


domingo, 7 de março de 2021

LENDO.ORG (30)

Será que não vejo Maurício Miele desde 1982, quando mudei da 9 de Julho? O irmão dele, Marcinho, vejo, ainda mora no mesmo prédio que meu irmão Fábio Bolota.  Marcinho era unha-e-carne com meu irmão Paulo, que o destino levou trágica e um cara levou criminosamente aos 17 anos. Mas é do Maurício que falo. Foi meu amiguinho amigão nos tempos da pré-adolescência e aventuras pueris no edifício Mantiqueira e ruas do Bixiga.  Honrados filhos de uma classe média baixa que valorizava estudos e  livros em um tempo de escola pública decente, competíamos para ver quem tinha mais conhecimento inútil, aqueles saberes da Barsa, Tesouro da Juventude, "Só compra quem tem" (quem lembra?). Mas não tardou que os trilhos da estrada nos afastassem totalmente, até que o Face nos reaproximou.  Posta aqui, comenta ali, outro dia ele, leitor glutão como eu, postou uma foto com seus livros da Brasiliense.  Entre eles A Teus Pés, um clássico da poesia alternativa dos anos 80. De Ana Cristina Cesar, essa sim um mito. Quando esbocei ao Mau que amava esse livro perdido, e que corria sebos para reencontrá-lo, ele de repente disse que ia me mandar o exemplar pelo correio.  Mandar como?  Tem em duplicata??  Vai mandar o seu???  Nem estiquei, mais desacreditando do que pasmando com a conversa, até que ontem o livro chegou!  Maurício!  São paulino roxo (agora diz que é Flamengo o maluquinho),  irmão da Marília e filho do Dirceu (sem esquecer a querida dona Consuelo), sobrinho do Miele famoso, família de Amparo, bixiguento da veia, casado sem filhos - só passeia o casal...  Obrigado!!!

A Teus Pés, sobre a Isto É que guardo desde 09/11/1983.


quarta-feira, 3 de março de 2021

LANCES URBANOS (64)

O Centro da cidade se deteriora a olhos vistos, e ninguém parece ligar. Praça João Mendes, 19h, dezenas de pessoas saindo dos dois grandes fóruns em direção ao metrô Sé, passando pela lateral da igreja da Sé, com o calçadão ali totalmente às escuras!  A sensação de insegurança, tão nativa nos paulistanos, cresce ao lembrar que a Sé, já há anos, não é mais o marco zero turístico da cidade, e sim o ponto de encontro e permanência de sem-tetos, sem-modos (também), sem-assistências, sem-atenção, sem-escolha...  Ah, como sempre sonhei que toda a região da João Mendes, Sé e adjacências, que frequento profissionalmente há quase 40 anos, sofresse a ação dos três grandes atores locais:  o Tribunal de Justiça, a OAB e a igreja, regidos pela batuta da prefeitura, ou melhor, da subprefeitura, a quem hoje cabe a mínima zeladoria da cidade, fazendo uma intervenção legal. Mas qual nada!  A indicação dos subprefeitos continua regida pelo interesse politiqueiro dos vereadores (aqui), como foi na gestão passada, e por que mudaria agora, se o prefeito é o mesmo? Ah, ah, como me surpreendi nesta semana, quando lendo "A Longa Viagem", memórias do poeta e político Menotti del Picchia, a sugestão dele - e proposta que ele tentou colocar na Constituição Estadual - da existência de uma "prefeitura de carreira", em que o candidato a prefeito, por concurso, deveria mostrar sua formação como engenheiro urbanista e perito em administração.  Gente, isso há 90 anos!  E isso não seria muito mais necessário agora, que a meleca está feita!
Sé às escuras.  Merecemos?