quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

LENDO.ORG (52)

Rússia, Ucrânia...  Fui a um sebo hoje e falavam lá em guerra...   Lamentável que ainda se pense em fazer guerras: deveriam estar vivas as lembranças de duas guerras mundiais, causadoras de milhões de mortos e feridos. Triste humanidade sem memória. Assim foi que há exatos 80 anos, em 23/02/1942, o escritor Stephan Zweig e esposa Lotte se suicidaram em Petrópolis.  Causa mortis: sim, suicídio.  Razão para isso:  a incapacidade de ver psicopatas arregimentando exércitos pra dominar o mundo, e as dores de uma guerra que se arrastava há 3 anos. Já li duas vezes O Mundo que eu vi, onde Zweig, com muita classe, descreve o final do século 19, após algumas décadas de paz.  Viena e Paris brilhavam artes e luzes, sem que ninguém antevisse o germinar da 1ª Guerra Mundial, fruto da incapacidade da diplomacia para resolver questões entre países.  Semelhante ao que acontece agora? Entre aquele então, e hoje, houve a 2ª Guerra Mundial, que Zweig - profundo humanista  (aqui) - não suportou assistir daqui do Brasil, exilado, não de camarote, porque em qualquer lugar que estivesse o sofrimento seria atroz e o mesmo: ver irmãos se matando sob ordem de líderes psicopatas - o oposto de humanistas.  A história se repete. A desgraça a um passo, com psicopatas no poder. 



terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

SAUDADES... (46)

Há anos repasso na agenda essa frase dele: Bom mesmo é problema na cabeça, sorriso no rosto e paz no coração.  Incrível, ontem mesmo, navegando pela biblioteca no modo "dispensar", peguei o livro do Arnaldo Jabor, hesitei, cambaleei, e pus de volta na prateleira: como não ter um Jabor nessa biblioteca-reta-final-da-vida?  Cara inteligente pra caramba, charmoso pra cacete, viveu na juventude a fase mais dourada que esse Brasil conheceu, o final dos anos 50, e no Rio!, cidade então mais maravilhosa impossível!  Conviveu com belas mulheres (em Eu te Amo viu nuas de perto Sonia Braga e Vera Fischer, quer mais?), casou três vezes (epa!, casar a 3ª vez é burrice, deixa pra lá), opinava em pleno Jornal Nacional (sucesso garantido com sua "vocação para teatralizar seus pontos de vista", diria Ruy Castro),  foi cronista de grandes jornais...  Taí um cara invejável, pensava eu às vezes... Um cara que (verbete na enciclopédia ipanemense, portanto bom nadador), tenho pra mim, aos 81, não conseguiu superar a rebentação dos dois tsunamis que devastaram a sua (nossa) sensibilidade nos últimos anos. Quem o conheceu sabe: morreu engasgado com a situação do país. Seus filmes e livros não deixarão ter saudades, mas desde já deixa...

Arnaldo Jabor (1941 - 2022)


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

LENDO.ORG (51)

Postagem cedinho, pra você poder ir a uma banca de jornal (ainda existe!) e comprar o Estadão.  Hoje, há 100 anos, 11/02/1922, abria a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal (*), e o Estadão traz um gostoso caderno de 8 páginas sobre o evento que marcou a cultura brasileira.  O grande Ruy Castro contesta, bairrista como todos somos, dizendo que no Rio muito coisa "revolucionária" já acontecia, e que o ibope da Semana de 22 é muito devido ao trabalho dos acadêmicos da USP, por décadas incensando o evento e seus eventuais.  Bom, o caderno comemorativo  traz até matéria falando disso, dos precursores dos Andrades, das Anitas e Tarsilas, dos Brecherets e Villa-Lobos...  Traz indicação de livros, passa um pano geral. Faz tempo que não suja os dedos com jornal impresso?  Vai lá!   (*) O primeiro recital foi dia 13, mas dia 11 inaugurou a exposição de artes plásticas.

Caderno especial no Estadão de 11/02.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

LANCES URBANOS (75)

Contatado pela produtora do Jornal da Record, de estalo passei 4 pontos de interesse no largo do Arouche:  O Gato que Ri e o La Casserole, restaurantes há 70 anos no local, a sede da Academia Paulista de Letras e o maravilhoso chichá, árvore centenária que é até verbete do wikipedia (aqui).  Depois puxei da estante Paulo Cursino (São Paulo de Outrora) e Roberto Pompeu de Toledo (A Capital da Solidão) pra lembrar sobre o marechal Arouche Rendon, maior político paulistano na virada do séc. 18 para o 19, que em sua chácara em que plantava 40 mil pés de chá abriu um clarão para os militares treinarem artilharia, que viria a ser depois o Largo do Arouche e o resto é história.  Aí fui pra entrevista no largo mesmo.  Cheguei uma hora antes e rodei pelo pedaço.  A entrevista começou, gravei meia hora e no programa apareci 10 segundos (coisa de jornalismo diário).  No jornal falei espremido entre estatísticas de crimes e cenas de trombadinhas e medo no centro (coisa de Record rsrs).  Enfim, veja a matéria aqui, que abriu o jornal.  Confesso que voltei pra casa otimista.  O Arouche é o extremo do Centro Novo, ainda consegue exalar, pra quem tiver nariz pra buscar, aromas dos "bons tempos": os prédios classudos, as atrações citadas e outras (as floriculturas, os vários brechós com coisinhas muito curiosas - comprei uma caixa da série Ally McBeal por 5 reais! - etc).  O que falta lá, como no centro todo?  Falta o povo voltar. Os desabrigados e nóias se destacam no vazio.  E como o povo vai voltar? Primeiro, tem que passar a pandemia, a economia se recuperar, e os milhares de m2 de escritórios fechados voltarem a ser ocupados.  Mas não basta. O povo não vai voltar antes da sociedade civil se unir a empresas e entidades da região, e articularem junto - eu disse juntos - um projeto planejado, realístico, de intervenção no centro, forçando o paquidérmico poder público a se mexer e participar, tornando aos poucos o centro de novo (e velho) convidativo.  Tá tudo lá.  Acho que dá.

Morro de amores por esse chichá no largo do Arouche.