domingo, 30 de agosto de 2020

LENDO.ORG (21)

Eu não esperava essa notícia triste, apesar de saber que a Cachoeirinha é um dos distritos mais afetados pela pandemia:  o Sebo do Roberto fechou porque a covid levou o Roberto.  Sempre que passava na rua modesta batia os olhos para a casa simples, térrea, que não disfarçava pela varanda haver ali o comércio que eu mais amo: de livros usados. Aquela casa era um sebo, eu descobri há alguns anos.  E por duas vezes entrei, sendo atendido por um senhor meio da minha idade (descobri agora que 5 anos mais velho), firme e honesto.  O sebo ocupa (ainda) a varanda e a sala principal da casa, e foi com alguma insistência que consegui entrar: a sua mulher, Beth, ainda não assimilou a perda do marido para a pandemia, faz poucos meses.  Por uns 30 minutos fiquei ali, oscilando humores, ora ávido de encontrar publicações de interesse (e encontrei algumas), ora cheio de respeito, afinal aquele era o espaço sagrado de trabalho de um homem recém desencarnado (também oscilo entre gostar e repudiar esse verbo). Enfim fiz as duas coisas, reverentemente escolhi 5 livros, mas, surpresa boba, dona Beth disse que Roberto não tinha máquina de cartão.  Disse mais: que ele gostava de vender porque sabia que a pessoa ia ler, e que ele andava feliz, porque estava vendendo bastante livros no começo da pandemia... ia muito à papelaria e ao correio...  puxa vida...   Enfim, eu estava com pouco dinheiro na carteira, deu pra levar um Herman Hesse que já li, adorei, emprestei, e agora vou reler...  minha vida é reler...   Combinei de voltar para levar os outros...   não pretendo barganhar o preço na capa, em respeito ao mercador ausente...  Por enquanto o sebo está ali intocado...  Mas os sebos, pelos mais diversos motivos, estão em extinção...   Meu aceno para o Roberto, também conhecido como Guerra...



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

SAUDADES... (38)

Puxa, superficialmente, é difícil dizer que Washington Novaes morreu feliz. Pois é claro que ele se foi com o senso de dever cumprido, pai de quatro filhos, sete netos, jornalista atuante nos maiores veículos do país, como pioneiro na área ambiental,  com muitos prêmios conquistados (aqui) por seus documentários, especialmente sobre os índios desse Brasilzão depauperado...  Conheci mais de perto Novaes através de seus aguardados textos às sextas-feiras no Estadão, sempre sobre meio ambiente, informações bem pesquisadas...  Respondeu a alguns emails que mandei, mostrando presença de espírito...  Ele batalhou muito pela causa ecológica, então, por tudo isso, vê-se que a  felicidade sempre rondou a vida desse homem.  Mesmo assim, como não achar que ele morreu com um boa pitada de tristeza, vendo o descalabro criminoso que impera na área ambiental?...

Washington Novaes (1934 - 2020)
(foto: folha.uol.com.br/TV Anhanguera)



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

LANCES URBANOS (58)

Todo o povo que desce a São João, dos dois lados, querendo atravessar o Anhangabaú, dá de cara com os tapumes que cercam a obra no vale . Tendo que contornar, os pedestres são jogados, na altura da praça do Correio, em uma calçada, ou melhor, picada, de pedriscos, apertada entre os tapumes e a via de trânsito.  Já seria bem ruim se, de repente, não surgisse esse obstáculo de foto, obrigando os paulistanos a circular pelo asfalto da rua!  Repito:  todo o povo que desce a São João é jogado para isso aí.  Estava assim na tarde de ontem.  Vi aí a cara da prefeitura da cidade, e o seu respeito com o centro, com os seus moradores.  Ou seja, nenhum!

Na tarde de 25/08/2020. 


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

LANCES URBANOS (57)

Ainda causa estranheza, passados 5 meses de pandemia, ver as ruas vazias em um centro empresarial como é a Vila Olímpia.  Essa calçada deserta é a do Shopping Vila Olímpia, em plena quinta-feira, 15h30.  Nos prédios as recepções estão às moscas, com poucos atendentes, movimento mínimo, quase todos trabalhando em home-office.  Fôssemos um país desenvolvido, essa situação seria analisada e o limão viraria uma limonada: haveria um planejamento para melhorar o trânsito e desafogar o transporte público, que é o grande sacrifício diário da população.  E o "novo normal" de uma mobilidade mais digna surgiria, com um novo modelo de trabalho, em parte presencial, com novos horários, em parte home-office. Mas que nada!  Se você pensa em "planejamento", vão dizer: "comunista!". A preguiça e a burrice ditam as regras..

Não é Domingo!  Rua das Olimpíadas às 15h30 de um dia útil. 
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quinta-feira, 13 de agosto de 2020

LENDO.ORG (20)

De cabeça conto 9 sebos no entorno da igreja de São Gonçalo, na praça João Mendes. Ontem entrei no sebo João Batista, que nem placa tem, na esquina das ruas Álvares Machado e Rodrigo Silva.  Entrei atraído pelo cartaz modesto: todos os livros a R$ 10,00. O João Batista foi trazendo livros do meu interesse, cidade de São Paulo, e alguns deles, de verdade, valiam bem mais.  Mas entendi a proposta do atencioso alfarrabista: desovar seus livros sem burocracia, nesses tempos de pandemia de corpo e de mente.  O João Batista trabalhou quase 25 anos no tradicional sebo Brandão.  Depois teve por 5 anos uma banca de usados ali ao lado na praça Carlos Gomes.  Há apenas 2 anos abriu essa lojinha. Sem nenhum traço de comerciante ávido ou espertalhão, pelo contrário, ficou me mostrando umas aquisições especiais que fez, acho que não é toda hora que entra um cliente tão interessado em prosa...  Apesar da pressa, fiquei quase uma hora.  16 livros é fácil saber quanto gastei.  Alguns estão na foto...  Recomendo o João Batista.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

SHOW DE BOLA! (105)

Acho meio vexame ser fanático depois dos 40. Maturidade é poder acrescentar novos pontos de vista às coisas importantes. É ter liberdade de usar roupa verde se quiser; de poder avaliar o jogo do maior adversário - o Verdão, claro, sem preconceitos; de poder escrever Verdão com maiúscula, em respeito aos tantos palmeirenses que conheço. Digo isso pra justificar algo que nada tem de fanatismo, antes, é um ritual bem simples:  quando o Corinthians vai para uma final de campeonato, eu compro uma camiseta nova e assisto o jogo com ela, para dar sorte.  Assim será hoje, comprei a réplica da camiseta do 1º título nacional em 1990. Naquele tempo eu era fanático:  aquela final foi na exata hora em que minha filha tinha uma apresentação na escola, no palco, e toca eu ficar dividido entre a platéia e correr lá pra fora pra saber como estava o jogo. Hoje eu não levantaria da poltrona... só puxaria o celular a cada 5 min para checar o resultado...  o coração sempre será corintiano...