Eu não esperava essa notícia triste, apesar de saber que a Cachoeirinha é um dos distritos mais afetados pela pandemia: o Sebo do Roberto fechou porque a covid levou o Roberto. Sempre que passava na rua modesta batia os olhos para a casa simples, térrea, que não disfarçava pela varanda haver ali o comércio que eu mais amo: de livros usados. Aquela casa era um sebo, eu descobri há alguns anos. E por duas vezes entrei, sendo atendido por um senhor meio da minha idade (descobri agora que 5 anos mais velho), firme e honesto. O sebo ocupa (ainda) a varanda e a sala principal da casa, e foi com alguma insistência que consegui entrar: a sua mulher, Beth, ainda não assimilou a perda do marido para a pandemia, faz poucos meses. Por uns 30 minutos fiquei ali, oscilando humores, ora ávido de encontrar publicações de interesse (e encontrei algumas), ora cheio de respeito, afinal aquele era o espaço sagrado de trabalho de um homem recém desencarnado (também oscilo entre gostar e repudiar esse verbo). Enfim fiz as duas coisas, reverentemente escolhi 5 livros, mas, surpresa boba, dona Beth disse que Roberto não tinha máquina de cartão. Disse mais: que ele gostava de vender porque sabia que a pessoa ia ler, e que ele andava feliz, porque estava vendendo bastante livros no começo da pandemia... ia muito à papelaria e ao correio... puxa vida... Enfim, eu estava com pouco dinheiro na carteira, deu pra levar um Herman Hesse que já li, adorei, emprestei, e agora vou reler... minha vida é reler... Combinei de voltar para levar os outros... não pretendo barganhar o preço na capa, em respeito ao mercador ausente... Por enquanto o sebo está ali intocado... Mas os sebos, pelos mais diversos motivos, estão em extinção... Meu aceno para o Roberto, também conhecido como Guerra...
Que beleza se texto!
ResponderExcluirQue beleza se texto!
ResponderExcluir