terça-feira, 15 de agosto de 2023

LANCES URBANOS (86)

Serão os últimos dias da Saraiva da João Mendes?  Quem fez Direito, quem transitou pelo fórum central nos últimos 40 anos, com certeza tem uma estória pra contar da livraria Saraiva da praça João Mendes... Naquele prédio histórico tão bem conservado, três andares de livros.  No térreo temas gerais. No subsolo didáticos.  No primeiro andar ala exclusiva para os livros jurídicos, ao lado de um café que teve dias de glamour: belas moças ou elegantes senhoras, alegres jovens ou compenetrados senhores, tomando um capuccino, folheando um livro, batendo papo, paquerando... Assim até um passado recente. Sobreviveu à decadência do Centro, à Amazon e até à pandemia (vaticinei que não reabriria, após meses fechada... como a gente se engana... bem, o café não reabriu.)  Então pois é, passei hoje na frente, olhei pra dentro e uma melancólica plaquinha anunciava: todos os livros com 50% de desconto. Ah, puxa!, aquele misto-quente de tristeza e alegria...  Já disse, sou um perverso caçador de livrarias com 50% de desconto, a parte da alegria.  E sou um consciente de que não devia mais agir assim, já tenho mais livros do que lerei na última reta da vida, a parte da tristeza... Até porque todas as vezes que livrarias colocam seu acervo a 50%, fecham na sequência... Eu não deveria sorrir, mas sorri com 5 livros na sacola... Não sei até quando vai o desconto, não sei se está em todas as unidades da centenária livraria, ah, não sei nada, mas vai lá, escolhe a Saraiva da tua memória e a visite antes que acabe.

A Saraiva da João Mendes hoje, 15/08/23

 

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

LANCES URBANOS (85)

Quando às 7h30 a viatura da Força Tática estacionou de ré na calçada da Faria Lima e fuzis saltaram, eu falei, puxa, o prefeito vem mesmo, autoridades na área.  Mas quando os PM chegaram junto pra saber se éramos do manifesto, ah, entendi, é segurança chamada pra dar conta dos manifestantes! Manifestantes... Se eles soubessem antes que seriam só os "gatos-pingados" que éramos, ainda que representando os milhões de moradores despossuídos de qualidade de vida nessa cidade adoentada, ah, não teriam alocado bem uns 15 policiais, viaturas e até paisanas.  Uma "baratinha" (lembram?) daria conta, éramos nós (é nóis viu!), muito pacíficos, munidos só com as palavras de ordem nos cartazes. O prefeito certamente nos viu ao chegar.  Já nós não o vimos.  Entrou camuflado em um das dezenas de carros de luxo insulfilmados que mergulharam na garganta profunda do Plaza Iguatemi.  Ele viu metade da turma.  A outra estava no acesso do hall principal, passou o secretário de Planejamento Gadelho, passou o relator da revisão do PDE Rodrigo Goulart (cumprimentando todos, polítitico que é), passaram muitos engravatados deixados por ubers pretos. O seminário no 11º andar chamava-se O Novo momento do mercado imobiliário, organizado pelos poderosos Secovi, Abrainc e Lide.   Até aí, normal.  Anormal é o prefeito estar lá, e não ter um olhar crítico, ao menos neutro,  nesse momento em que todas as mídias cobrem todos os dias os impactos que a indústria das incorporações está gerando na cidade. Em que a cidade, repito, doente, tá na UTI. Então fomos lá mostrar que a cidade é também dos seus moradores, dos seus habitantes.  Mostrar que existimos. E que também temos demandas, que estão muito mal atendidas.  Fizemos o que tínhamos que fazer.  E então? Vai nos atender ou não sr. prefeito? 

A cidade bateu no iceberg.  Quem disse não fomos nós, foi o maior escritor paulista vivo.