São Paulo entra em sua 4ª fase de transformações radicais, se me permitem a leviandade de continuar a reflexão que Benedito Lima de Toledo abordou em seu livro São Paulo: três cidades em um século. A 1ª fase foi a de taipa, que durou 350 anos, da fundação até o início do século 20, quando começa a 2ª fase: a transformação produzida pela riqueza do café e o crescimento impressionante da cidade. Essa seguiu até o final da 2ª Grande Guerra, quando Toledo viu São Paulo entrar na 3ª fase, com os grandes empreendimentos imobiliários, em que “os símbolos urbanos, a imagem da cidade, os monumentos históricos, deixaram de entrar na composição das preocupações das autoridades”. Toledo morreu em 2019 (aqui) e não teve tempo de registrar em livro sobre a chegada da 4ª fase de transformações, a dos gigantescos empreendimentos imobiliários, em que os novos edifícios atingem tamanhos ciclópicos, na largura e na altura. Edifícios parrudos, que precisam despudoradamente eliminar quarteirões inteiros para surgir. (Vi isso claramente ontem, no Brooklin, as casas de um quarteirão inteiro sumiram, entre as avenidas Portugal e Santo Amaro). Pois é. A cidade, adoentada há muito por seus excessos, vê agora surgir demandas exponenciais, de toda sorte de infraestruturas, desconsiderando a sustentabilidade ampla da urbe. Todos os paulistanos hoje relatam exemplos de casas e vilas extintas, tráfego de caminhões carregando terra e bate-estacas petulantes. Porém não são todos que anteveem a grande confusão que tudo isso vai gerar. E não só na situação da pandemia terminar e todos os carros de praxe voltarem às ruas. É também a demanda por água e por esgoto. É também a eliminação do verde e do horizonte por tantos empreendimentos. É a demora absurda – leia-se desinteresse – em criar novos parques. São os resíduos sólidos sem nenhuma ação ou planejamento. É o centro da cidade absolutamente abandonado. Mas é, para efeito dessa rápida reflexão, a chegada com tudo da 4ª fase de alterações da cidade, com a indústria imobiliária tocando seus projetos em intensa competição de incorporadoras e construtoras, sem a batuta ativa de uma coordenação. Sem ao menos a cobrança de compensações à altura do impacto causado. E sem a batuta porque... qual é mesmo o nome do prefeito que vai tocar a cidade mais de 90% da gestão? Mas isso é assunto pra outra postagem. Querido Benedito Lima de Toledo: quem dera eu tivesse a sua capacidade, pra relatar, como é preciso, essa chocante 4ª fase de transformações da cidade.
Sobradinhos esperando sua vez de sumirem. Brooklin - 28/06/21 |