quinta-feira, 10 de agosto de 2023

LANCES URBANOS (85)

Quando às 7h30 a viatura da Força Tática estacionou de ré na calçada da Faria Lima e fuzis saltaram, eu falei, puxa, o prefeito vem mesmo, autoridades na área.  Mas quando os PM chegaram junto pra saber se éramos do manifesto, ah, entendi, é segurança chamada pra dar conta dos manifestantes! Manifestantes... Se eles soubessem antes que seriam só os "gatos-pingados" que éramos, ainda que representando os milhões de moradores despossuídos de qualidade de vida nessa cidade adoentada, ah, não teriam alocado bem uns 15 policiais, viaturas e até paisanas.  Uma "baratinha" (lembram?) daria conta, éramos nós (é nóis viu!), muito pacíficos, munidos só com as palavras de ordem nos cartazes. O prefeito certamente nos viu ao chegar.  Já nós não o vimos.  Entrou camuflado em um das dezenas de carros de luxo insulfilmados que mergulharam na garganta profunda do Plaza Iguatemi.  Ele viu metade da turma.  A outra estava no acesso do hall principal, passou o secretário de Planejamento Gadelho, passou o relator da revisão do PDE Rodrigo Goulart (cumprimentando todos, polítitico que é), passaram muitos engravatados deixados por ubers pretos. O seminário no 11º andar chamava-se O Novo momento do mercado imobiliário, organizado pelos poderosos Secovi, Abrainc e Lide.   Até aí, normal.  Anormal é o prefeito estar lá, e não ter um olhar crítico, ao menos neutro,  nesse momento em que todas as mídias cobrem todos os dias os impactos que a indústria das incorporações está gerando na cidade. Em que a cidade, repito, doente, tá na UTI. Então fomos lá mostrar que a cidade é também dos seus moradores, dos seus habitantes.  Mostrar que existimos. E que também temos demandas, que estão muito mal atendidas.  Fizemos o que tínhamos que fazer.  E então? Vai nos atender ou não sr. prefeito? 

A cidade bateu no iceberg.  Quem disse não fomos nós, foi o maior escritor paulista vivo. 


2 comentários:

  1. Muito orgulhoso de sua iniciativa. Mais um motivo para que o Paulistano dê nota "zero" ao alcaíde e que se livre dele para sempre. Merecemos um prefeito eficiente que veja a cidade como um local para morarmos e vivermos bem, Não quero um mascate que tem loteado SP para seus comparças.

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  2. Meu amigo cronista Antônio Penteado Mendonça costuma dizer que São Paulo que São Paulo se transforma sem lembrar o passado e cresce sem pensar no futuro. Fugir à regra desse pensamento, é meio que navegar contra a maré de uma cidade considerada a capital do dinheiro graças à sua vocação de trabalhar dia e noite e gerar empregos para as pessoas que nela vivem. Ainda assim não sou contra a posição dos manifestantes por terem lançado o alerta de que o crescimento em demasia pode fazer de São Paulo, uma terra inabitável. Faço votos de sucesso nessa empreitada de conscientização ao povo e quem sabe às autoridades constituídas do município.

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