quarta-feira, 3 de março de 2021

LANCES URBANOS (64)

O Centro da cidade se deteriora a olhos vistos, e ninguém parece ligar. Praça João Mendes, 19h, dezenas de pessoas saindo dos dois grandes fóruns em direção ao metrô Sé, passando pela lateral da igreja da Sé, com o calçadão ali totalmente às escuras!  A sensação de insegurança, tão nativa nos paulistanos, cresce ao lembrar que a Sé, já há anos, não é mais o marco zero turístico da cidade, e sim o ponto de encontro e permanência de sem-tetos, sem-modos (também), sem-assistências, sem-atenção, sem-escolha...  Ah, como sempre sonhei que toda a região da João Mendes, Sé e adjacências, que frequento profissionalmente há quase 40 anos, sofresse a ação dos três grandes atores locais:  o Tribunal de Justiça, a OAB e a igreja, regidos pela batuta da prefeitura, ou melhor, da subprefeitura, a quem hoje cabe a mínima zeladoria da cidade, fazendo uma intervenção legal. Mas qual nada!  A indicação dos subprefeitos continua regida pelo interesse politiqueiro dos vereadores (aqui), como foi na gestão passada, e por que mudaria agora, se o prefeito é o mesmo? Ah, ah, como me surpreendi nesta semana, quando lendo "A Longa Viagem", memórias do poeta e político Menotti del Picchia, a sugestão dele - e proposta que ele tentou colocar na Constituição Estadual - da existência de uma "prefeitura de carreira", em que o candidato a prefeito, por concurso, deveria mostrar sua formação como engenheiro urbanista e perito em administração.  Gente, isso há 90 anos!  E isso não seria muito mais necessário agora, que a meleca está feita!
Sé às escuras.  Merecemos?  


Um comentário:

  1. Mais parece uma foto tirada de um filme de terror dos anos 70. Essa absurda falta de zelo pelo centro histórico explicita que é urgente termos um estadista. Hoje, temos um candidato que foi eleito, contudo continua candidato. Só fala de intenções. Precisamos de ações. E não do tipo que temos visto no Vale do Anhangabaú. Um convite aberto ao que pode haver de pior para o centro. Bom, veremos. Um city planner (eleito ou contratado), independente de interesses e forças políticas, é uma sugestão para trilharmos um novo caminho para uma cidade que tem resistido ao descaso. Mas até quando?

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