segunda-feira, 18 de novembro de 2024

E AÍ? (6)

O triângulo equilátero é simpático: tem os três lados iguais, a mesma medida, equilíbrio total. De uns tempos pra cá me apaixonei pelo triângulo equilátero, mas não era assim. Explico. Sempre gostei da abordagem antroposófica, da análise da vida dividida em setênios. Subgrupos de 7 anos (setênios), formando os grande grupos das estações da vida, de 21 em 21:  Primavera até os 21 anos. Depois o Verão até os 42.  Aí começa o Outono até os 63. E então (finalmente?) o Inverno, até os 84 anos.  Bom, e depois dos 84?  A grande pensadora desse tema, a sábia senhora Gudrun Burkhard, detalhou no livro "Tomar a vida nas próprias mãos" as quatro estações, e depois lançou o "A Vida após os 80 anos", porque hoje (mais do que nunca) a vida continua depois dos 84. Muito bem, muito bonito, mas então pensei em simplificar esse entendimento esquemático (matemático?) da existência.  Não mais 4 etapas de 21 mas, veja só, 3 etapas de 30 anos.  E aí o triângulo equilátero assomou: a vida percorrida em 3 retas de igual tamanho. Do ponto A ao ponto B, os 30 anos da reta inicial, ensolarada, intensa, veloz.  Depois, do B ao C, a aresta dos 30 aos 60 anos (eta aresta boa e longa!), e finalmente a reta (a melhor?) dos 60 aos 90. Onde você está nesse desenho simplificado da vida?  Eu acabei de fazer a última curva (que como podem ver é bem aguda, como a querer cortar laços com o passado), acelerando (até quando?), do C ao A.  E aí? O que você acha? Traduz a existência? E o que vem depois dos 90 (se você teve gasolina)? A bandeira quadriculada? Vitória?

fonte: http://commons.wikimedia.org


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

E AÍ? (5)

Observador das ruas e suas características, desde criança considero a Sena Madureira uma avenida especial.  Larga, imponente, nem tão extensa que se vulgarize (ela, na Vila Mariana, e a Dom Pedro I, no Ipiranga, minhas avenidas-alamedas, desde sempre majestosas devido ao manto verde por toda extensão). Por não morar perto, era sempre um sabor especial passar pela Sena. Por mais de 50 anos nunca imaginei um dia morar na Vila Mariana, mas aconteceu. Em 2014 mudei para cá, e me aproximei quase cotidianamente dessa senhora avenida. Nela o Rancho da Empada (onde meu pai passava com seus "casos" para um salgadinho na calada da noite, contou-me).  Nela a biblioteca Viriato Correia (que frequento com sua ampla e sempre vazia sala de leitura). Nela, em especial, o verde nada discreto, frondoso, de tantas e tantas árvores vigorosas no seu canteiro central, árvores cada dia mais necessárias...  Eis que essa senhora está sendo violentada a olhos vistos, suas árvores de décadas sendo arrancadas para privilégio e escape do todo-poderoso da hiper-modernidade, sua satanidade o carro. Trata-se de um projeto ultrapassado de túneis, que vão eliminar um congestionamento aqui para jogá-lo 500 metros ali adiante... ao custo de 500 milhões de reais! Falam tanto em violência... e o que é isso? Violência ao erário e, principalmente ao meio-ambiente urbano pensado no seu sentido mais amplo. A violência da moto-serra serrando a despeito dos gritos dos manifestantes, que ainda tinham que ouvir dos motoristas: "vão trabalhar seus vagabundos!"...  Ouvir de ignorantes que não percebem que estamos ali trabalhando sim pela vida das árvores, dos pássaros, da vida de tudo o que é vivo, inclusive a deles, negacionistas!  Enquanto isso a liminar não sai... Vai sair quando as 172 árvores (aqui) já estiverem no chão? E as famílias das comunidade atingidas na Chácara Klabin, que moram lá há décadas? E aí?  Duro esse tempo, esse sistema, em que só o deus-dinheiro é louvado.

Uma das árvores imponentes ameaçadas, na Sena Madureira. (foto: Elisa Ximenes)


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

E AÍ? (4)

Oficialmente todos nós, de tempos em tempos, cortamos as unhas. Das mãos e, pasme!, dos pés. Então o mundo se divide entre os que nunca pensam nisso, e aqueles que, sempre que as cortam, indagam: como, ou quem, cortará as unhas dos pés da... Gisele Bundchen? E percebe que a pergunta é tola: uma pedicure estrelada vai a ela e resolve o problema. E isso certamente vale pra elas e pra eles, famosas e famosos, que usam desses serviços com pé-digree de corte. Trocadilho infame, sei, mas é pra ir direto ao assunto: e aí?  Quem corta as unhas dos pés do presidente da República? Se for o próprio, então ele não é famoso?  Ele não tem cortesão ou cortesã que corte suas unhas... no palácio?  Meu, isso não pode! Senão ele, o presidente, ao cortar as unhas no banheiro, em malabarismo difícil de pensar (que dirá de executar), pode cair, bater a cabeça e pôr todo o governo a perder!  Pois é, caiu (aqui), bateu e... vai perder? Como se a esquerda precisasse de um empurrão desses... A esquerda que acorde. Vai acordar. Pena que não vai ser (porque não tem como ser) já.

Uma ferramenta pequenina,  que pode causar estragos...


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

LANCES URBANOS (99)

Fazendo o rescaldo do 1º turno... errei quase tudo.  Se é que alguma vez se erra alguma coisa, errei quase tudo, menos as escolhas à prefeitura e à Câmara.  Elas, as escolhas, que eram também elas, as candidatas, não se elegerem, fez parte do aprendizado delas, e do meu.  Aos 61, mais do que nunca, exercito não o físico, mas o mental e o espiritual, visando errar menos, mas isso não vem ao caso.  Por estar longe da perfeição em todos aqueles quesitos, fico a ruminar os erros.  Dei uma de negacionista com a ciência da estatística e das pesquisas e quebrei a cara.  Deu exatamente o que elas previram.  Ou viram, com os olhos da ciência.  Achei que ia acabar a gasolina de um dos três perto da reta final, mas que nada!  Iriam até o fim dos tempos com o motor a milhão, disputando voto a voto, e quis o bom Deus que em terceiro nessa corrida maluca chegasse o Dick Vigarista, ou seja, fora do 2º turno.  Errei ao negar a importância do voto útil nessa circunstância.  Deu pra ver que se não fosse ele, my God, vocês sabem o que poderia ter acontecido.  Isso é diferente de me arrepender de ter votado em quem eu tinha certeza desde Setembro do ano passado, quando Verônica, Durval, Sérgio e eu nos reunimos com ela, e logo senti que a menina é feita de firmezas.  E assim firmemente, na mesma noite em que se despediu da corrida com uma honrosa classificação, declarou seu voto para o 2º turno, o que me surpreendeu, positivamente. Temi que ela não declarasse. Errei feio!  Nossa, tô errando tanto que uma hora acerto!  Por exemplo:  ela ficou em 4º, mas dirigia uma Toleman, foi um resultado super-positivo. É noviça. Quando tiver uma McLaren ou uma Ferrari, será campeã do mundo.  (Metáforas de Fórmula 1, sugeri Viviane Senna pra vice dela, não me ouviram e foi bom, não estou em boa fase pra pitacar, mas não desisto, ainda mais quando o palpite é fácil: com uma Ferrari, será campeã do mundo!).  Tudo muda (e como!), mas a vida ainda é (aproveitemos!) feita de Sol e Lua.  Bomba atômica não quero.

Vou guardar os marca-páginas.


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

LANCES URBANOS (98)

São Paulo vai resistir ao 3º estelionato eleitoral em 8 anos? Difícil. Diz o ditado que bicho ruim não morre. Ah, morre sim, de tanta pancada. A primeira, dessa última safra de pancadas, foi o abandono da cidade por João Dória, com um ano e três meses de "gestão", porque o tal "gestor", aquele do "trabalho, trabalho, trabalho", largou a missão levada em 1º turno nas eleições de 2016. Ninguém duvida que só o trabalho vai salvar São Paulo do túmulo. Então o tal João ter abandonado a moribunda tão cedo foi o primeiro estelionado, tremenda sacanagem. O segundo foi com Bruno Covas. Vice de Doria, assumiu quando aquele se mandou. Triste, ele já era um doente terminal quando empenhou sua palavra de dedicação a um desafio do tamanho de São Paulo, na eleição de 2020. Aí faleceu com quatro meses no cargo, deixando a cidade ao vice, um desconhecido como são 95% dos vices. Foi a 2ª sacanagem com a sofrida cidade de Anchieta, João Teodoro e Prestes Maia. E agora, 2024. E agora? Se segura na poltrona que o tranco vai ser forte! O 3º estelionato aponta no horizonte, não sei se pelas bandas de pesquisas eleitorais arbitrárias, que já dão o resultado da corrida na largada, ó canalhas! Ou se pelas bandas da introdução de um M de m*, um indecente que tem a arrogância de querer ser prefeito da nossa São Paulo! Ou ainda, se vem de um tal de "voto útil", instilado quando uma luz diferenciada aponta no céu da cidade, uma esperança que nem pode correr solta pra ver no que dá, tem que ser torpedeada como se fosse um missel invasor do "Domo de Ferro", mas não, era apenas uma esperança no céu. Ah, ia esquecendo, o estelionato ainda pode vir pela permanência do desinteressado. Tem vez que desinteresse mata.

Edifício Matarazzo, prédio da prefeitura de São Paulo.
(foto: Diego Torres Silvestre/ Wikipedia/ saopaulosecreto.com)


terça-feira, 3 de setembro de 2024

LENDO.ORG (67)

Bienal do Livro. A cada dois anos, aquela jornada de alegria ao mundo maravilhoso dos livros. A primeira em 1970, essa a 27ª, fui a 20 no mínimo. Em 1994, já com as filhas, a Noah ganhou o maior prêmio na "raspadinha" que vinha com o ingresso. Hoje, talvez uns 300 reais em livros. Foi divertido. Sempre é. E quem tem mais de 60 não paga! Você vai? No primeiro dia, na primeira hora, como fui em 2022?  Palhaçada, as bilheterias atrasaram uma hora pra abrir, claro que puxei as palmas de protesto. No primeiro dia, primeira hora, está todo mundo frio, quiçá stands por terminar...  Ir no último dia é certeza de pegar uns descontos, que a editora não quer voltar pra casa com livro no caminhão. Mas enfrentar a lotação do Domingo? A maioria nem vai pensando em conhecer o Anhembi repaginado, agora concedido a uma multinacional francesa. Será o primeiro evento no Distrito Anhembi. Não sei se gosto ou se desgosto da concessão, ou do nome, o importante é terem colocado ar condicionado, cuja ausência era uma eterna crítica ao velho espaço de exposição. Não é uma feira de descontos, como a da USP. É a Bienal. Muito mais expositores. Até o querido Clube de Literatura Clássica (aqui) vai estar lá, certamente com um stand pequeno, que eles não são uma Companhia das Letras ou uma Record. Sou sócio do CLC desde o começo e mais que recomendo, clássicos são clássicos. De 6 a 15/09. Segura o cartão, lá vai barão!
O novo Anhembi inaugura com a Bienal do Livro.
(foto: divulgação em panrotas.com.br)




quarta-feira, 21 de agosto de 2024

LANCES URBANOS (97)

Hoje o Parque do Ibirapuera completa 70 anos. Por que em 21 de Agosto e não em 25 de Janeiro quando, lá em 1954, nossa São Paulo celebrou festivamente 400 anos? Não sei. Mas sei: quem não tem lembranças no Ibira, bom paulistano não é. Nessa foto estou nele, com 16 anos. O parque era jovenzinho, meros 25. Fez as contas? 1979. É. Eu e os Country Boys, marcando presença na história do skate paulistano (e por extensão brasileiro). Quem sou eu na foto?, brinco de perguntar. Meio óbvio (acho) mas nem todos acertam (como é o mundo!). Às costas está o MAM, mas essa parede não existe mais, faz tempo que o museu tem uma fachada toda de vidro (faz sentido), na tradicional marquise que está fechada há anos. Triste ver a poeira acumulando na extensa área que é um abrigo glorioso aos frequentadores quando chove, possivelmente o marco principal do desenho que Niemeyer deu ao parque. Ele foi concedido (há quem ame, há quem odeie isso) e a marquise continua lá, vergonhosamente abandonada. Enfim, tenho para mim que o Ibira encolheu. É que tenho saudades de quando o parcão ficava meio vazio, tranquilo, nos dias de semana (frequentei-o diariamente entre 78 e 81). Hoje nos dias de semana está cheio, e aos Domingos estruba, é inviável frequentar. Sei, claro que ele não encolheu. Só que nesses 70 anos a população da cidade quadruplicou, e ele ficou o mesmo, o parque referência da cidade. Falar mal do Ibirapuera não tem cabimento. No dia do seu aniver então, nem pensar. Mas ele não ficaria quase inviável de cheio, nos fins de semana, se a cidade tivesse mais parques, no centro e na periferia. Tadinho, estão exigindo demais do Ibira setentão. Concedido então (shows, leds, merchandising), nem se fala.

No Ibira, em 1979. 




domingo, 11 de agosto de 2024

LANCES URBANOS (96)

Quem circulava pelo centro nos anos 70 e 80 lembrará de dois prédios icônicos: o Mappin e o São Vito. O primeiro era o paraíso, para não dizer o castelo encantado, das compras. O outro - extremo oposto - era o maior treme-treme da cidade, com milhares de moradores em um prédio de 27 andares, em condições precaríssimas.  Mappin e São Vito, os dois não existem mais. Porém seus fantasmas, hoje, estão ligados umbelicalmente, e vão renascer juntos, numa muito curiosa transformação.  

O antigo Mappin vai ser a sede administrativa do SESC SP

O enorme prédio do Mappin está total em obras pra ser a nova sede administrativa do SESC SP.  E no terreno do edifício São Vito, demolido em 2011, na porta do Brás, está surgindo uma nova unidade do mesmo SESC. A distância entre essas novidades é de menos de um quilômetro. Entre esses dois pontos, estão evidentes todas as mazelas sociais e urbanas que o centro viu surgir e crescer nos últimos 40 anos.  Só que... só que agora tem isso:  o SESC SP investindo forte, trazendo sua sede para o centro. Essa tremenda força indutora, ao lado de tantas coisas que já surgem no centro velho e no centro novo, e de tanta vontade acumulada de ver o centro ressurgir, renascer, resplandecer, não é de dar esperança na gente? Daí a importância de pensar bem no voto, daqui a menos de dois meses.

Onde havia o São Vito, vai surgindo uma nova unidade do SESC SP


terça-feira, 30 de julho de 2024

SHOW DE BOLA! (112)

Meu Deus como as coisas mudam! No meu tempo (faz tempo rsrs) skate era sinônimo de rock (Bob Dylan, Led Zeppelin) e punk (Sex Pistols, The Clash). Como então é isso de agora se associar - coisa incrível! - skate com Djavan? E trazendo medalha olímpica pra o Brasil! Ah, esse país é mesmo surreal, um dia engrena e vira uma potência muito estranha para o mundo ver e admirar. "Como eu estava muito ansiosa, coloquei pra tocar Um Amor Puro  (aqui) do Djavan", revelou Rayssa Leal.  E aí veio o bronze, que estava difícil, Djavan empurrou.  Ah, eu poderia escrever um livro sobre o alagoano e um sobre o skateboard.  Sobre skate já escrevi.  Sobre Djavan é projeto sem prazo escrever uma biografia não autorizada desse compositor maravilhoso. Biografia baseada no que encontrar escrito sobre ele (nem tenho coragem de marcar uma entrevista), mas especialmente baseada nas emoções fortes que sinto com sua música única, iluminada.  Pra mim, na MPB que é o que de melhor o Brasil produziu ever, Djavan é simplesmente The Best, me desculpem Chico e Gil, que vão me compreender, os grandes sabem compartilhar. E a maranhense Rayssa?  E o skate que fez parte da minha vida intensamente na adolescência?  Coisas lindas!

No Estadão de 30/07/24



quinta-feira, 25 de julho de 2024

LENDO.ORG (68)

Que seja como na ilustração, linda e alegre, a abertura das Olimpíadas Paris 2024. Estou ansioso. Talvez não supere (nenhuma vai superar) a abertura de Pequim 2008, uma coreografia de milhares de pessoas roboticamente militarizadas, espetáculo impressionante. Mas abrir as Olimpíadas com um desfile em um rio, o Sena, é também glorioso. Paris deve ser demais. Vêem os 4 prédios na imagem? Cada um deles é como um livro aberto, formam 4 livros que se olham, são a Biblioteca Nacional da França. Que mais vou dizer?  Só uma: o Estadão hoje traz matéria sobre o que estão lendo 14 atletas, dos 277 brasileiros que vão competir. Thaisa Daher, do vôlei feminino, está lendo O Jeito Harvard de ser feliz, de Shawn Achor.  Ulan Galinski, da montain bike, lê Guga, um brasileiro. Quase todos, livros de incentivo ao melhor desempenho mental. Importante. Mas Maria Paula Heitmann, da natação, lê a ficção Resgate do Tigre, para um "descanso mental pós-treino". Show! Vou acompanhar esses atletas, desde já meus favoritos. A abertura, pela primeira vez fora de um estádio,será sexta-feira às 14h30. Imperdível!
Às margens e "dentro" do rio Sena (imagem em olympics.com)


quarta-feira, 17 de julho de 2024

LANCES URBANOS (95)

Fiz bons amigos no trabalho que exerci por 38 anos. Trabalho que me permitiu um monte de coisas. Uma delas foi chegar a lugares pouco acessíveis às pessoas em geral. Amante da cidade, sempre andei com uma máquina fotográfica na cintura, tipo cartucheira mesmo, pra bater fotos diferenciadas de janelas indiscretas. São Paulo não é uma Paris, ok, mas tirei fotos bem interessantes. De uns tempos para cá, Kledson, um daqueles amigos, começou a me desafiar, clicando paisagens cifradas e mandando para eu identificar.  Modéstia à parte, acerto quase todas. Conheço a cidade como poucos, modéstia à parte 2, nesses quase 62 anos de andanças e pesquisas urbanas. Essa ele mandou mais pelo achado, pela beleza, porque não tem mistério. O prédio à esquerda é o Montreal, na esquina da Ipiranga com...  São João? Nada disso Caetano! Cásper Líbero. Prédio de Niemeyer, com afrescos de Di Cavalcanti no hall e entrada pelas duas avenidas. Meu pai morou nele por quase 10 anos, mas acabou sofrendo a tal gentrificação: os coreanos tomaram conta do prédio, e o aluguel do amplo quitinete que vários coreanos podem pagar, não pode ser pago por um baiano que recebe um salário mínimo de aposentadoria. Nem pensar. Mudou para Sapopemba em 2013, e isso é outra história. O prédio do meio, a garagem da Polícia Civil, vejam só, tomou banho de loja, a "tampa de rosca" está elegante, com emblema e acabamento novos. O da direita é uma ETEC ampla e moderna, em plena "Boca", na Santa Ifigênia. Muito bem-vinda, educação um dia vai nos resolver. Eis São Paulo, que aguarda melhor gestão a partir de 2025. 

Não é drone. Foto do amigo Kledson Jeff Green.


domingo, 30 de junho de 2024

LENDO.ORG (67)

Está engasgado um Brittadeira sobre as eleições municipais, daqui a 3 meses. Mais um estelionato eleitoral em curso. Mas fica pra depois. Falemos de livros que é melhor. Taí a matéria de hoje com essa mulher linda por fora e por dentro (ou por dentro e por fora, se preferir), Bruna Lombardi. "A literatura é a minha raiz. É onde eu comecei. É o que me sustenta. É a coisa mais próxima, mais íntima de mim, que eu tenho".  O primeiro livro dela, No Ritmo dessa Festa, comprei pelo Círculo do Livro, lembram desse simpático clube?  Tinha a revista mensal com os lançamentos, a gente escolhia, acho que mandava o cheque, chegavam pelo correio, capa dura com uma rugosidade e arte especiais, que belos livros!  Não o tenho mais, se foi nas metamorfoses por que passam nossas bibliotecas ao longo da vida. A matéria conta do "enxugamento" da biblioteca do casal 20 Lombardi Ricelli, e do filho Kim. Tô nessa faz tempo. A minha tem o limite de 1000 livros, e é curioso saber que alguns não serão lidos nessa vida. Por mim, pois sobreviverão a mim. Enfim, livros. Começou ontem a Feira do Livro no Pacaembu, vai até o próximo Domingo, com uma tenda para receber livros em doação para o RS. SOS-RS, diz o grande Eduardo Bueno. Vou levar. Quem quiser a saborosa matéria da querida Bruna, avisa que mando o PDF, que ler é um dos três prazeres sublimes da vida. 

Matéria no Estadão de 30/06/24

quinta-feira, 20 de junho de 2024

LANCES URBANOS (94)

O Sol mais deitado do ano. Solstício de Inverno. Amanhã ele já começa a voltar, do Norte para o Sul, o movimento pendular infinito (enquanto dure).  Assim é a vida ne? Então eu estava no centro velho da cidade.  Sim, porque São Paulo são muitos centros.  Ou no mínimo dois, o velho e o novo. Fui à 25 de Março e seu lodaçal.  Sim, sim, aquilo é um lodaçal. Não deixa de ser por ter gente, infelizmente. Muito pelo contrário, é gente mesmo que cria aquele lodo todo nas calçadas sujas, nas sarjetas imundas, na confusão indizível. Bons tempos (talvez) da galeria Pajé há 50 anos.  Meu pai fazia sucesso lá naquele tempo, ele gosta de lembrar, mas isso é outra história.  A história agora é que a recuperação, a revitalização, o re-nãoseioquê da 25 de Março vai ficar por último. Ali a coisa é séria, porque a selvageria impera.  O ressurgimento tem que começar em trechos mais dóceis do centro, dos centros, tipo na rua São Bento de lojas fechadas que o Douglas Nascimento mostrou outro dia, centro velho.  Tipo no entorno das galerias do centro novo, pensar o que fazer por ali, quem sabe colocar flores, quem sabe fazer uma limpeza pra valer, tipo zeladoria profissional (ué, não recebem salário pra isso??), e não a zeladoria inexistente de hoje. Quem sabe unir forças e trabalhar.  Só colocar PMs não dá. Pra tirar do fundo do poço precisa de mais. Lá na ponta direita da foto (que bati da Prestes Maia), o prédio da Prefeitura. O centro, os centros estão na berlinda, porque tem eleições daqui a três meses (!), e recuperar, reerguer, recriar essa região é uma questão de honra. Passou da hora. Quem teve 4 anos para fazer isso, e não fez, não merece permanecer.
Hoje, 20/06, 16h, Solstício de Inverno


segunda-feira, 10 de junho de 2024

E AÍ? (3)

Em três levas, foram 565 livros deixados no ponto de entrega em São Paulo para o projeto A Ponte, de São Leopoldo, de recuperação das bibliotecas de escolas públicas atingidas no Sul. 55 meus (aqui), 510 (sem contar os infantis e os gibis) de pessoas queridas.  Como irão para lá?  Quando estarão em alguma prateleira?  Quando alguém, lendo os que doei, vai encontrar os erros de revisão que costumo marcar nas páginas?  Mistério. Cada um faz sua parte. A minha foi levar ao endereço indicado. A de pessoas pró-ativas e desapegadas, foi separar os livros e me contatar pra pegá-los. 565 livros não compõem nem uma biblioteca de escola pública, mas é um tijolo na construção. O fato é que não existe escola sem biblioteca, ainda que nenhum aluno pegue livros pra ler, o que será uma incompetência da direção pedagógica da escola, não culpa de nenhum aluno.  Ler é apresentação. Ler é incentivo. Existem técnicas para apresentar e incentivar a leitura aos estudantes.  Somos seres melhores quando lemos, e a leitura mais valiosa está em livros. E aí? Ainda dá pra doar. Leve uma caixa, uma sacola que seja, na av. Brigadeiro Faria Lima 628, Pinheiros, em horário comercial. Entre no estacionamento e diga que vai entregar livros na portaria. Fui atendido lá pelo Jeferson. Facinho. Só não sei até quando. (Opa! De última hora a Regina, amiga da Maria Laura, trouxe 119 livros, que levei à Abigraf, na rua do Paraíso 529, Paraíso.  Também estão enviando para o Sul.)  684 livros. 

Terceira leva entregue hoje. 220 livros.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

E AÍ? (2)

Esses foram para o projeto A Ponte (aquele do vídeo do escritor Eliandro Rocha, de chapéu preto e fundo vermelho, que viralizou), em São Leopoldo. Para ajudar a reconstruir as tantas bibliotecas arrasadas pelas águas (água e livros, em estado bruto, não se afinam).  Doamos também 50 garrafas d´água, (água, água, água, como isso é importante, e sério, e perigoso, ter demais ou faltar, remember Sabesp), duas sacolas de roupas e cem reais.  Pouco, quando debaixo do edredom penso nas 50 mil pessoas em abrigos precários (mas absolutamente humanos e carinhosos) nesse momento. Leio que o voluntariado lá vai enfraquecendo, o que é natural, e agora vem o "piora antes de melhorar", se tudo der certo. Pouco, quando penso na desgraça das casas e negócios submersos (olha que nossas várzeas aqui em São Paulo são também extensas, remember Mooca, remember Butantã).  E aí? Ao menos oremos, que é uma forma de diariamente não esquecer.
Uma pena, não tem infanto-juvenis. 


terça-feira, 21 de maio de 2024

NÃO É POR AÍ... (98)

Centro de Veranópolis. A uns 40 km de Bento Gonçalves pela estrada normal, via ponte dos Arcos. Agora são uns 80 km, a ponte está interditada com os desmoronamentos causados pelo rio das Antas. Em 2022, quando estive lá com as filhas, apesar de tantas cidades no entorno de Bento, só tinha certeza de querer conhecer uma:  Veranópolis. Não por ter a maior média de longevidade do Brasil (diz a Wikipedia). Isso eu já sabia há muito.  O que eu soube depois, e me fez ir até lá, é que é a terra natal de um dos jogadores mais queridos que já vestiram o manto alvinegro em seus 114 anos: o goleiro Cássio. Coisa de fanático?  Não, que ser fanático depois dos 40 é papelão. Um simples reconhecimento pelos serviços prestados. Um ditado alemão diz que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes.  Claro que muito mais importante, dramático, é a situação dos irmãos e irmãs gaúchos nesse momento. São centenas de UBSs, de escolas, são milhares de casas, patrimônios, histórias, lembranças, abaladas ou definitivamente perdidas. O futebol tem a sua importância relativa, tem que se dobrar ao que é maior, demorou mas a CBF suspendeu por 15 dias as partidas de futebol da série A.  Nada mais sensato. Inter e Grêmio ainda estão sem os seus estádios.  Não sei como está a cabeça do Cássio quanto a isso, a família vive em Veranópolis. Jogou no Grêmio antes de ir fazer a glória no Timão.  Todos nós corintianos estamos tristes com a forma que ele está deixando o clube depois de 13 anos, tão perto da aposentadoria. Sai pela porta dos fundos.  Ou, se sai pela frente, é na calada da noite, sem carinho, sem homenagens.  Qual o drama?, dirão, é um cara rico, deixou uma história no time, vida que segue. Sim, nesse paisinho subdesenvolvido do KCT, a vida segue assim, sem reconhecimento, sem prevenção. Não é por aí...

Centro de Veranópolis, 08/2022.


quarta-feira, 8 de maio de 2024

E AÍ?

Minha filha mora em Bento Gonçalves. Sommelier, há 3 anos mudou para a "capital brasileira do vinho". Queridos e queridas perguntam como ela está.  Respiro fundo e penso em como ser sintético.  O principal: ela está bem. Mora na área urbana de Bento, que felizmente é distante dos cursos d´água (esse é o ponto!), foi pouco afetada diretamente. Agora, o ser analítico. Quando estive lá em 2022 fui (com as duas filhas, momento sublime) almoçar em Nova Pádua, a 50 km de Bento, em um restaurante-mirante. Ficamos pasmos com a profundidade do vale do rio das Antas. Já à época eu (que sempre amei mapas e geografia) pensava como seria aquele vale profundo com um grande volume de águas.  Agora acho que não queria ver...  O fato é: esse ponto do rio das Antas está a 120 km do Porto Alegre.  Até chegar na capital esse rio entra no Taquari, que entra no Jacuí, que entra a Leste, frondoso, no Guaíba, beirando a capital. O googlemaps mostra o caminho com clareza. Só que nesses 120 km veio trazendo, agora, as águas de uma tempestade descomunal (que tempestade foi essa que cobriu um estado??), acumulando volumes de água impressionantes, que ao passar por Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Estrela, Encantado, plácidas cidades ribeirinhas, entre tantas outras, foi destruindo tudo com a força da gravidade aquática acumulada. Sem contar as outras bacias! E tudo chega, águas destroços, e estaciona no rio Guaíba, que nem é um rio, é uma gigantesca lagoa, um dos mais belos pores-do-Sol do Brasil, em Porto Alegre. Teve Petrópolis (2 vezes), teve São Sebastião... e quando for a vez de São Paulo?  A Cantareira ocupada sustenta?  Claro que não. O Tietê velho de guerra aguenta?  Claro que não. E aí?  Quanto é culpa da natureza?  Quanto é culpa dos homens e seus governos?  Quanto é culpa de Deus?  Distribua aí a culpa e arregace as mangas.

Rio das Antas em Nova Pádua, a 120 km de Porto Alegre.


sexta-feira, 26 de abril de 2024

SAUDADES... (56)

Em data assim redonda, a pergunta surrada: onde você estava quando Ayrton Senna morreu? Faz 30 anos, que loucura! Existia internet? Celular? Não sei. Outra geração? Talvez. Era 1994. Por certo outro milênio. Senna "do Brasil" foi uma febre crescente, da primeira vitória até o fim. Quem não chorou?  O cara tinha um carisma curioso. Pra começar, não era afetado, e isso não é pouco! Outro tri, Piquet, era (e é!) um mala sem alça total! Emerson (tri F1 + Indy), grande piloto, tinha o carisma de um biscoito vencido. Já Senna era meio gente como a gente ne? Senna da Silva, paulistano (da popular ZN), corintiano. Tinha um charme simples, uma voz contida, quase nada do glamuroso circo. Se não tivesse morrido naquela curva Tamburello, seria aos 64 o cara interessante que parecia ser? Quem vai saber? Ah, aquilo doeu. Eu estava em Poços de Caldas naquele 1º de Maio.  As crianças já brincavam no playground do hotel e eu de pé no quarto, ah, não perco essa largada por nada, ele precisa se recuperar das derrotas no começo da temporada, a mais aguardada de todas, ele com o carro "de outro planeta", o Williams-Renault FW16, mas o alemão papando tudo...  Fim de semana maldito: na véspera morreu outro piloto nessa pista. E naquela manhã o Senna não estava legal, estava estranho, as imagens mostraram em close, estava reflexivo, estava tenso, estava sei lá o que. E bota maldição na história: teve batida forte na largada, zoando os astros. Na relargada, quando na 7ª volta o carro desgarrou (teve um infarto e perdeu a direção?) e chapou o muro a 230 por hora, eu cai sentado na cama, mas como Deus é brasileiro ele vai sair desse carro andando... Deus brasileiro?  Esse mito acabou!

1º de Maio de 1994. Senna, meia hora antes do fim...
(foto: ayrtonsennavive.blogspot.com)


quinta-feira, 18 de abril de 2024

LENDO.ORG (66)

Ora direis, ler clássicos, mas o que é um clássico?  Definição simples: um livro que você sabe que vai reler, e só não o fará se o soberano Tempo impedir. São os seus clássicos.  Mas e os clássicos consagrados? Acho que é meio assim:  pensa um sonho. No sonho um clube com muitas piscinas, de tamanhos diferentes. Só você nesse clube, tem piscinas pequenas e enormes, piscinas rasas e muito profundas. Azuis clarinhas, azuis marinhos. Essas piscinas são as personagens que o autor do sonho, do clássico, criou. E assim você, na leitura, vai à superfície de umas, senta à borda, mexe os pés dentro delas, ou então entra, caminha, nada ou mergulha, em águas ora quentes, ora frias,  pode tirar o traje de banho e mergulhar nu ou nua, você está só, vai experimentando as diversas sensações (emoções), que são oferecidas pelo autor, que pensou cada piscina/ personagem. Você acorda da leitura, ou sai do sonho, e quando volta as piscinas estão todas ali, as mesmas ao seu dispor. Então volta a nadar nas piscinas rasas, ou mergulhar nas profundas, e de repente surgem outras piscinas, novas personagens, profundas ou rasas, e você vai conhecendo, se divertindo, se emocionando, aprendendo, vivendo cada personagem, mergulhando em cada piscina... Um clássico é um clube de piscinas infinitas que você não quer que acabe, só alegrias (às vezes tristezas).  Levei três meses para ler Oliver Twist. No meu momento histórico de trabalho, não poderia ser mais rápido.  No futuro espero voltar a esse clube, para revisitar essas piscinas, que estarão lá, um pouco diferentes, e será uma surpresa perceber que elas mudam, porque isso é um clássico. Espero não ter falado bobagens. 

Oliver Twist: o mundo e o submundo de Londres em 1830


sábado, 30 de março de 2024

LENDO.ORG (65)

Essa livraria, que não é pequena, existe há 55 anos em uma avenida que não é pequena.  Só que eu nunca tinha entrado nela, na livraria.  Na avenida passo sempre, se tornou meu caminho, como um dia foram a ladeira General Carneiro, a rua Santo Antônio, a rua Dr. Zuquim, caminhos para casa em diferentes fases da vida. Faz 10 anos que moro na Vila Mariana, então a Bernardino de Campos, extensão embicada da avenida Paulista, a Bernardino se tornou caminho, então eu passava e dizia:  olha a livraria em que eu nunca entrei, que coisa, como pode, logo eu que amo livrarias! E acabei desafiado outro dia numa conversa, quando um cara me disse que era uma livraria pequena...  Ah, como assim pequena?  Pequena é a Livraria da Tarde, em Pinheiros, que é uma portinha abrindo pra uma riqueza.  Pequena é a Livraria da Vila do Shopping Eldorado (fui outro dia, pequena). A da Bernardino, não!  Verdade que nem lembrava o nome dela, até porque nem bem tem placa, mas a gente vê muito livro lá dentro, pela frente de vidro, quando passa e sabe que ali é uma livraria, porque - lei da vida - quem não sabe não vê nada. E fui. A proprietária estava lá, a Silviane.  Contou que o pai abriu a livraria em 1969. Teve filiais em Guarulhos e outros locais que não lembro, que depois fecharam. Cumprimentei-a pela seção de biografias, excelente.  Nome curioso: Book Stop.  Parada dos livros?  Fiz uma boa compra, meio pra me redimir do abuso de comprar em feiras de desconto (a da UNESP abre dia 3 agora). Mas é isso, quem ama livros compra online, em sebos, em feiras de desconto, em livrarias físicas lindas como essa Book Stop. Dá pra parar de carro na porta, mas eu estava a pé, fui pelo caminho levando a sacola pesada de livros... Vida longa para a Book Stop!

Eis que entrei na Book Stop.