Observador das ruas e suas características, desde criança considero a Sena Madureira uma avenida especial. Larga, imponente, nem tão extensa que se vulgarize (ela, na Vila Mariana, e a Dom Pedro I, no Ipiranga, minhas avenidas-alamedas, desde sempre majestosas devido ao manto verde por toda extensão). Por não morar perto, era sempre um sabor especial passar pela Sena. Por mais de 50 anos nunca imaginei um dia morar na Vila Mariana, mas aconteceu. Em 2014 mudei para cá, e me aproximei quase cotidianamente dessa senhora avenida. Nela o Rancho da Empada (onde meu pai passava com seus "casos" para um salgadinho na calada da noite, contou-me). Nela a biblioteca Viriato Correia (que frequento com sua ampla e sempre vazia sala de leitura). Nela, em especial, o verde nada discreto, frondoso, de tantas e tantas árvores vigorosas no seu canteiro central, árvores cada dia mais necessárias... Eis que essa senhora está sendo violentada a olhos vistos, suas árvores de décadas sendo arrancadas para privilégio e escape do todo-poderoso da hiper-modernidade, sua satanidade o carro. Trata-se de um projeto ultrapassado de túneis, que vão eliminar um congestionamento aqui para jogá-lo 500 metros ali adiante... ao custo de 500 milhões de reais! Falam tanto em violência... e o que é isso? Violência ao erário e, principalmente ao meio-ambiente urbano pensado no seu sentido mais amplo. A violência da moto-serra serrando a despeito dos gritos dos manifestantes, que ainda tinham que ouvir dos motoristas: "vão trabalhar seus vagabundos!"... Ouvir de ignorantes que não percebem que estamos ali trabalhando sim pela vida das árvores, dos pássaros, da vida de tudo o que é vivo, inclusive a deles, negacionistas! Enquanto isso a liminar não sai... Vai sair quando as 172 árvores (aqui) já estiverem no chão? E as famílias das comunidade atingidas na Chácara Klabin, que moram lá há décadas? E aí? Duro esse tempo, esse sistema, em que só o deus-dinheiro é louvado.
Uma das árvores imponentes ameaçadas, na Sena Madureira. (foto: Elisa Ximenes) |
Esta sanha desenvolvimentista ainda é muito forte entre nós. Conforto ambiental não está na planilha das políticas públicas, muito menos zoneamento racional das cidades. O que conta é o número de empregos gerados, a valorização dos imóveis no entorno, a projeção política daquele que defendem o tal progresso. Sei que o corte dessas árvores não é nada diante da imensa destruição de ecossistemas inteiros, nessa louca lógica predatória lamentável
ResponderExcluirOi primo! Não é nada mesmo, mas chegamos a um tempo em que cada árvore conta muito! Parabéns pela consciência construída aí em Juiz de Fora. Valeu!
ExcluirVer uma árvore ser derrubada é de cortar o coração. Eu era vizinho de uma mangueira frondosa. Quando ela foi cortada, pude presenciar o desespero dos pássaros que nela nidificavam (nem o período de reprodução das aves respeitaram!), dos besouros e insetos que fugiam em revoadas. Na manhã seguinte ao abate fui acordado por uma miríade de lamentos de pássaros.
ExcluirLamentável e revoltante. Qualquer intervenção numa via com essas características deveria ser feita de forma inteligente e não como de costume, destrói e coloca outra coisa no lugar.
ResponderExcluirHoje existem métodos e tecnologias capazes de modernizar sem destruir a história da cidade.
Sim Ruy! Métodos e tecnologias para nos salvar, e não enterrar. Valeu!
ExcluirFrancisco, sempre captando e expressando o essencial com essencialidade: "sua satanidade o carro"! Carros são úteis, nos levam para hospitais, mercados, visitas, trabalho... mas, quando é tratado, utilizado egoística e individualmente torna-se uma praga (tipo aquelas do Egito)! Não há túnel, ponte estaiada ou não, marginal em São Paulo que não esteja repleta de carros, parados, ou em marcha lenta tal qual lesmas envenenando o ar e o silêncio. Então me pergunto: Pra quê construir mais túneis, pontes, marginais? Pra ficar tudo parado? Já não passou da hora de mudar o modal? Então por quê continuar destinando orçamento para obras viárias que privilegiem o carro? Administração esquisita.
ResponderExcluirQuanto aos gentis inteligentes que berram de seus carros pros manifestantes irem trabalhar pergunto-lhes: que trabalho é mais essencial e nobre que oferecer seu corpo, sua voz, sua luta àqueles que não têm voz? E ainda de graça!
E nem de graça é, ne querida Rosalia? Todos ali pagavam um preço por estar na manifestação: um atraso no trabalho, uma garoa na cabeça, um risco de cassetada... Puxa, obrigado pelas palavras sábias e gentis.
ExcluirNênia para uma avenida, tristemente poético seu texto, Britto. Hoje, a Sena Madureira. Logo, logo, farão o mesmo com nossa Raposo Tavares? Queira Deus que não!
ResponderExcluirNênia = elegia fúnebre. Não sabia Flora! Foi meio isso mesmo, infelizmente... Obrigado querida!
ExcluirAgradeço seus pensamentos em palavras escritas! Acho importante divulgar em outras mídias como jornais e dar mais som, voz ao seu sensível texto.
ResponderExcluirObrigado Rosanne! Queremos outra São Paulo ne?
ExcluirO tom do final de ano tem que ser o de profunda reflexão e preparo para muito confronto. Não acredito q haja uma forma apenas para este convivio.
ResponderExcluirSim Verônica! Precisamos refletir, em coletivo, sobre como agir. Obrigado!
ExcluirReflexos do autoritarismo que São Paulo está vivendo com seus policiais e seus atuais governantes.
ResponderExcluirOi prima! Essa consciência baiana é linda! Bjs
ExcluirMuito triste essa situação. Eles continuam a derrubar as árvores. Uma situação cara para nós nos dois sentidos: ambiental e bolso.
ResponderExcluirO que adianta falarem que vão replantar árvores em outros lugares...mudas??!! É um crime tudo isso!
Querem trocar árvores de 70 anos por mudas de 70 cm! Não dá ne Andrea? Obrigado!
ResponderExcluirOlhem as raízes desta árvore magnífica resistindo no meio de duas fileiras de carros passando! Essas árvores deveriam ser tombadas, testemunhas de toda uma história de São Paulo ! Muito triste o que está acontecendo!
ResponderExcluirMuito triste mesmo Aude! Mas sigamos na luta.
ExcluirBoa noite. Tá virando panelinha aqui. Abraços
ResponderExcluirGraças a Deus! Valeu anônimo ou anônima.
ExcluirAssino embaixo, Britto. Infelizmente, já sabemos o final dessa história. Fosse outro o resultado da eleição municipal, o desfecho poderia ser diferente, quem sabe... Quanto aos motoristas, devem estar com pressa para comemorar a vitória do Trump, que já anunciou a "desregulamentação ambiental".
ResponderExcluirSim, o ambiente não ficou favorável, mas resta a esperança no Judiciário. Valeu Felipe!
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