segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

LANCES URBANOS (105)

Sei quase tudo da vida do meu barbeiro. Não que seja um barbeiro de anos, longe disso. Faz uns 6 meses... Ou seja, 6 cortes. 5 talvez, que não sou (já disse) tão Caxias ou cabeludo... É que a vida do seu Dito me comove! Como eu queria ir à sua casa, em São Bernardo do Campo, pra conhecer sua mulher... Pra ver a cara dela, porque não vou pedir pra ver uma foto... Quem sabe um dia a foto dele com ela, mais plausível de pedir, lá pelo 30º corte... É que ela, há mais de 40 anos, passa o dia em casa, esperando por ele...  Tipo música do Chico, a dona Sônia Maria está lá nesse agora em que escrevo, e ele aqui na Vila Mariana, solitário no seu modesto salão... O vejo quase todo dia que passo de carro. Uma vez quase bati ao procurá-lo ao passar, cadê o seu Dito? Foi tomar sorvete na esquina, o tranquilão? (Nem parece tranquilão). Ah, já me disse que ela, dona Sônia, vai no supermercado, na casa de uma amiga, quando não resisti perguntar (nem lembro como) o que ela faz o dia todo...  Eu precisava ver essa Amélia (não hoje, mas lá aos 40, quando ela já esperava)...  Ela que paga todas as contas "pelo celular", me disse hoje, estou vindo de lá pensando nos dois... Uma vez contou que a conheceu numa firma em que trabalhavam, na rua Augusta, “no meio de um monte de gavião", disse. Aí ele chegou (faz 45 anos!), a tirou do perigo e levou pra São Bernardo... Não! Ela é que o levou pra perto da família. Ele, curioso, era do Sumarezinho... Conheço o bairro, quase fiz ele me dizer o nome da rua. Se perguntasse ele não estranharia, pessoa muito simples (não boba, cuidado!), eu é que teria uma incômoda sensação de invasão (perguntar é uma arte!).  Já sei que tem dois filhos... E sei que não tem nem terá netos, porque os filhos têm mais de 40 e só uma nora é mais nova, 33, mas ele não acredita, "ela só gosta de barzinho"...  Do Sumarezinho não sei, mas a rua de São Bernardo sei qual é. Por dedução descobri, olhando o guia...  Sei o ônibus que ele pega no Jabaquara, baldeia em Diadema, desce na avenida Caminho do Mar, mas em geral está de carro... O casal bem poderia ser personagem de um romance do Marcos Rey (mas aí a dona Sônia teria que aprontar à tarde...) Ou de um filme do Babenco (filme forte, não combina). Ou peça do Guarnieri (tudo a ver, um drama social no ABC...)  Gianfrancesco Guarnieri... Um nome assim já nasce com sorte na vida! Eles não usam black-tie é o melhor filme brasileiro que vi. Pixote também é fantástico. Mas o Guarnieri era aqui da Vila...

Cena do filme  Eles não usam black-tie (1981)
foto: aterraeredonda.com.br (Googleimages)


domingo, 16 de novembro de 2025

LANCES URBANOS (104)

Quando criança vivia olhando pra cima, buscando prédios. Ou melhor, pré-adolescente (10, 11 anos?), quando já se olha as coisas com intencionalidade cerebral: puxa, eu queria morar ali... ou ali, nos belos prédios da Consolação ou (nem fala) Higienópolis, amplos e confortáveis, sonhava... Era punk 6 pessoas num apto de 50m2... Adolescente (13, 14?) passei a admirar também os prédios comerciais. E o da IBM saltava. Era "o" prédio. Em caso de terremoto, queria estar nele. Com todo aquele concreto, nunca desabaria. A IBM era o Gugou, tudo impressionava. Os mainframes impressionavam, a avenida 23 de Maio impressionava... A foto é de 1977. Nesse ano (eu tinha 14, e você?) ganhei a sonhada Caloi 10 e ia ao Parque do Ibirapuera (virou um shopping!), subindo a 13 de Maio e descendo a Abílio Soares. O Ibira está ao fundo da foto, em dia útil, a julgar pelo movimento no estacionamento, que agora sumiu: dois blocos da construtora Lindenberg (blergh!) estão quase prontos ali (morar em 300m2, ok. De frente pra fumaça e pro barulho, oq?). Era então o "governo militar", eu morava no Bixiga, em seus últimos tempos do samba boêmio... E você, onde estava em 1977? (Nesse ano, nesse bairro, fui atropelado, contei aqui). Mas estamos no Paraíso, só que... parando pra pensar, não era e não é um pedaço muito "paraíso" esse aí não. Bem atrás do prédio, na rua Tutóia, ficava o DOI-Codi, órgão encarregado da repressão pesada (gritos audíveis na IBM?)... Corta pra 2018. Já distantes os "anos de chumbo", me machucava passar no viaduto Tutóia (está na foto) e ver a caterva aloprada pedindo a volta do AI-5 e dos militares...  Tomaram o local pra se exibir e colocar faixas, o buzinaço de apoio me doía no estômago... Ignorância em massa atordoa. Repetiu em 2022. (Ainda olho pra cima.) Escapamos por pouco.

Prédio-sede da IBM no bairro do Paraíso, em 1977.
(imagem: Memória Paulista - fotos antigas de SP e suas cidades (grupo no Facebook)


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

UM NOVO TEMPO... (12)

Precisei chegar aos 6.2 pra usar calça rasgadinha. Quem diria?, gostei. O que era um risco naquele índigo surrado virou um rasgadinho que rápido virou um rasgadão. E o que era incompreensível iluminou-se num estalo: não dê nada por sabido!, que o tempo só apronta com a gente... Nunca entendi essa sem-vergonhice de usar calça assim, furada na coxa ou no joelho. Que breguice! Que desleixo!... Que nada! Não é que areje mais pelo orifício, nada disso. É que simplesmente faz parte, todo objeto usado muda, e o nosso corpo é prova cabal: usamos o corpo e ele vai ganhando as marcas do uso, do atrito do vento, das mãos, do pensamento até (rugas e cãs precoces). Aí, quando o dinheiro abunda e a vontade coça, investe-se em obras de restauração mas... perigo! Pode dar um efeito Paola Oliveira (constrangedor!). Ou seja, não corra pro shopping. Usa a calça até ela acabar, que ninguém tá nem aí com o seu furinho... Depois recicla, que é sustentável (aqui). Gente, a gente muda!  Coisas nunca sonhadas, um dia são feitas! Por exemplo: comer chuchu. Ando comendo com prazer e moderação. Interromper um romance por tédio? Muito raro, mas e quando enrosca? Quase dois meses pra chegar na pág. 300, e o livro tem 600!  Especialmente quando está ali um Saramago super indicado pela Adri, ou o último do Tony Bellotto, ambientado na caipira (e sexual) Assis... Será que invado 2026 ainda com O Idiota? É, fui do chuchu a Dostoievski, pura desculpa pra falar de coisas que com certeza jamais farei (e você?): usar havaianas, comer pizza de frango com catupiry (heresia!), votar em... em... (cala-te boca!). Os medíocres estão se unindo e vão tomar o Brasil... Medíocres, unidos, jamais serão vencidos!  A onda é feia e tá vindo...

Havaianas, nem do Timão vai no pé.
(imagem: produto.mercadolivre.com.br)





segunda-feira, 20 de outubro de 2025

UM NOVO TEMPO... (11)

Meu olho dominante é o esquerdo. Na beira do lago de Holambra, através da pequena cerca e um graveto fincado na água, fiz vários testes pra confirmar, pois é coisa importante. E tá lá: meu olho dominante é o esquerdo. E o seu? Faça o teste do triângulo, ou da folha de papel, como ensina o dr. Gugou, mas não terá o efeito poético, a epifania de um fim de tarde nublado, chuva ameaçando, e os casais (Holambra é pra casais) rareando em volta do lago. Uma cidade cenográfica, o acrônimo de HOLanda-AMérica-BRAsil. Mas não sei se recomendo a visita, quando me vêm à cabeça Gaza. Gaza, a cidade destruída. Sampa, a cidade construída... e tudo uma desgraça... Gaza cidade é assim, do tamanho do distrito do Tremembé. A faixa de Gaza, do tamanho dos dois maiores distritos paulistanos, que você nunca foi, Parelheiros e Marsilac. A Cisjordânia é nem 4 cidades de São Paulo. Israel é um Sergipe... Gente, é dessa miséria de tamanho de terra que estamos falando! Meu Deus, Brasil, doa uma terra lá no meio da Amazônia, assim do tamanho do Acre, e chama todos os palestinos pra construir um novo mundo, com regras de go-ver-nan-ça e sus-ten-ta-bi-li-da-de (e teve "presidente" que em 4 anos jamais juntou essas sílabas!), regras pensadas com a ONU, com o Banco Mundial ($$) e com a COP30 (dá tempo de pautar!), traz todo aquele povo pra um novo tempo aqui nos trópicos! Se os palestinos não quiserem, chama os israelenses, que cabe (faça as contas) 6 Israéis no Acre! (Olha, meu olho-chefe é o esquerdo, mas não acho que é genocídio. Quiseram me genocidar por isso, mas não acho que é.) Em tempos de IA, deveríamos estar abertos para II, Imigrações Inteligentes. Deveríamos pensar fora da caixinha, ser disruptivos nesse planetinha agonizante!  Juntos e misturados, é com a gente mesmo...  Agora, se ninguém quiser vir, é uma puta má vontade, que se explodam então!  O que importa é que estou feliz, os livros estão nas estantes. Ficaram tão justinhos que 49 sambaram. Assim 20 foram pra amigos-amantes de livros. 3, no momento da guilhotina, alforriados, se salvaram. 26 foram pra AACD e o destino que Deus quiser. Estou numérico hoje? São 1.175. Da Clarice Lispector só tem um. Imigrante, ela era da Ucrânia...

"Para papai, sempre foi mais importante ler do que viver." (Rachel Jardim)

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

LANCES URBANOS (103)

Então, onde você nasceu? É polêmico. Gosto de perguntar isso, e perguntado, sempre respondi que nasci na rua 25 de Março, no prédio Alice que está bem no centro da imagem (não o mais alto, que é o icônico edifício Guarany).  Ah, essa foto me emocionou. Olha que sou conhecedor de fotos paulistanas, e essa tinha me escapado. No Face constava que o autor é Jean Manzon, famoso fotojornalista francês radicado no Brasil. E clicada em 1953, creio que do alto do edifício Altino Arantes (ou prédio do Banespa ou Farol Santander, como quiser), inaugurado em 1947. Subi uma vez naquele topo do prédio, escadinha caracol... Eram tempos pré-digitais, ficou sem registro. A polêmica é que certa vez disseram: então nasceu de parteira. Como assim?, indaguei. Se nasceu na 25 de Março, nasceu em casa, arguíram... Pois é. Não. Nasci no Hospital do Servidor Público... Minhas filhas não ficaram 24 horas na maternidade. Eu parece que fiquei uma semana, era assim, confortável (justo?) fazer pós-parto longo em hospital... Então nasci no Ibirapuera, no glorioso mesmo ano de Xuxa, Marisa Orth, Magda Cotrofe, Haddad (também Janeiro), estátua do Borba Gato, Beatles, Romero Britto, Tarantino, Débora (vilã) Bloch, Brad Pitt, Kasparov, Michael Jordan, Casagrande, Bonner, Mônica do Cebolinha, programa Sílvio Santos, Karnal, Andrea Beltrão, Nando Reis, e um bocado de parças. Você também tem a listinha (gostoso comparar) do seu ano? Mas... nasci no Ibira?? Que honra!, mas teimo em pensar que nasci mesmo na 25, onde passei a infância (no gramado da praça Fernando Costa ouvi minha primeira obscenidade), até os 9 anos (tava formado e perfumado). O prédio Alice era curioso, tinha (tem) duas entradas, pela 25 de Março e pela dr. Bitencourt Rodrigues. Tinha uma divisão física interna, separando as, digamos, classes sociais. O lado da 25, o meu, mais simples, apartamentos de aluguel. O da Bitencourt, creio que de proprietários, com requinte e até um elevador pantográfico, com os mesmos 3 andares... Era a classe-média-baixa-em-ascensão nos anos 60, que em breve migraria (os baianos em 72) para bairros mais "altos"... Depois o Alice cortiçou, pelo menos no lado da 25. Tem foto do prédio (perto de fazer 100 anos) nessa postagem aqui. Tem também do famoso parque Dom Pedro II, que lembro florido e hoje não é parque nem aqui nem na (desconcertante) China. E você? Nasceu onde acha que nasceu?

Centro da São Paulo, prédio Alice, em 1953. (foto de Jean Manzon, em grupo do Face)


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

E AÍ? (9)

Tomando banho (melhor lugar) nessa quarta (a Primavera entrou porrete!), me veio a epifania: a IA é o transgênico da década (e o que nos reserva a próxima?).  Eu já tinha lido no jornal (a segunda coisa que faço ao acordar) a matéria da foto. Aí olhei pra cima, a água bateu na cara e assustei! Vamos ter água no futuro? Antes eram os prédios parrudos subindo e ainda sem moradores pra gastar água (e os reservatórios já meio fracos), e agora isso: pra refrigerar os datacenters - a maçaroca descomunal de chips torrando em prédios maiores que shoppings - vai muita água! E energia então? Os quatro primeiros complexos de datacenters de inteligência artificial do Brasil poderão ter juntos o consumo de energia equivalente ao de 16,4 milhões de casas (no G1, aqui). Fala sério! Pra que isso meu Deus?! Para nosso ufano orgulho de dar respostas que nem somos nós que respondemos?? Ontem no Face alguém (um desconhecido, claro) disse que adora o hamburguer com creme de milho de uma lanchonete de grife. Aí eu, besta e metido, comentei que milho não deveria acompanhar prato nenhum...  Pois o tal respondeu num texto longo, cheio de informações e dados sobre... milho. Me desculpei, afinal era só a minha opinião (mal expressa), de que milho não entra em nenhum prato meu. Aí um mais esperto comentou simplesmente: dá-lhe IA!  É, a sabedoria daquele era pura IA!... Bom, me enxuguei, e de soslaio vi os livros recém resgatados das caixas (depois conto), são os meus chips, meio obsoletos, sei, mas meus. E lembrei que a matéria dizia que IA é tipo um google refinado, afinal este apenas entrega links para o assunto buscado, enquanto aquela já analisa e finaliza um texto, poupando o trabalho de leitura e redação. Nisso o google é quase tão analógico quanto a antiga Barsa: sobrava trabalho pra você e pra mim. Agora não, o texto vem mascado e cuspido! E como fica a educação das crianças??  A mesma matéria (se quiser mando o PDF) dá que as bigtechs vão gastar, neste ano, US$ 300 bi (R$ 1,5 tri!), só pra construir os tais datacenters, as usinas atômicas de informações vãs e imagens fake. É mais que o PIB da Bélgica! (lembra da Belíndia, mistura da Bélgica com a Índia que fez sucesso nos anos 90?) E pra que tudo isso meu Deus?! Para o nosso ufano orgulho de... já me repito, puto que estou com a mesma deturpação de foco de sempre, igual à ideia de jerico de levar humanos a Marte, sugando a grana, empobrecendo nosso planeta e poluindo aquele. E aí? E aí que aquela discussão sobre os transgênicos até soa pueril, porque agora o bicho vai pegar! Duvida?

Datacenter da Amazon em Indiana (EUA) (foto: Estadão de 24/09/25)


segunda-feira, 8 de setembro de 2025

E AÍ? (8)

Nunca fui aos EUA. E você? Puquiano dos bons tempos, só tinha olhos pro outro lado do oceano, o Velho Mundo... Olhos para o pai deles, o Reino Unido, berço do (meu) melhor rock. Mas não sou turrão, ok, poderia abrir exceção para um tour elegante, saindo de New York e descendo até Washington, passando pela charmosa (será?) Philadelphia, mais difícil de escrever do que a cidade da Casa Branca! Quando lancei o primeiro livro da Casa Verde, os sobretítulos (!) eram Washinton tem a Casa Branca, Buenos Aires a Casa Rosada... SÃO PAULO TEM A CASA VERDE. Pois é, a capital americana foi assim pro prelo, sem o G! Não acreditei quando percebi, não dormi naquela noite! Era 1998, quem lembra dos fotolitos?  De manhã toca correr até a gráfica no Brás e parar as máquinas! Pararam. Ufa! Sim, a MPB é maravilhosa, mas reconheço: a MPA, a americana, não fica atrás. Simplesmente amo aquelas baladas pops de grupos negros tipo The Stylistics (meu favorito), Commodores, Jackson 5...  Bossa Nova x Rhythm & Blues é briga de gigantes! Não conhecer Chicago, fazer o que, nessa vida acho que não vai dar, ainda mais agora (e minha filha diz que conheceu uma cidade americana, conheceu todas...). Quando eles tiveram Clinton tivemos FHC e era pau a pau (pau a pau mesmo, ambos aprontaram, o poder é pura sedução rsrs). Antes, Reagan foi como se Tarcísio Meira virasse presidente do Brasil...  Falando em charme, quem supera Obama?  Aqui era Temer, help!!  E agora lá, como diz Pepe, é o "domador circense"... Que fase América! O império balança e range, como uma montanha-russa de madeira. Um país afogado em armas... E aí? Tô fora! Nem pensar em visitar o tio Sam...  Mas o tio Sam vem visitar a gente. Olha se não é pura América essa lanchonete na Joaquim Távora, aqui na minha Vila Marianinha... Olha se na Paulista não fizeram do 7 de Setembro um 4 de Julho, eta povo com a cabeça deturpada, meu Deus! Comprar briga pra ser colônia é um caso a ser estudado no Juqueri!

Nenhuminha palavra em portugués na lanchonete da Joaquim Távora?


sábado, 30 de agosto de 2025

SAUDADES... (58)

O Sábado amanheceu lindo na Vila Mariana. Mas logo na primeira hora Alexandre, de Pirassununga, manda a notícia (aqui) da passagem de Luis Fernando Veríssimo... Puxa, como esse escritor foi importante pra mim em 2007, exatamente com os dois livros abaixo...  Se ficasse com a gente uns dias mais, eles já estariam nas estantes que dessa-semana-não-passa(acho que estarão montadas semana que entra), mas ele se foi antes, e os livros ainda estão inacessíveis em caixas de papelão (puxei as capas no gugou, que papelão!)  Veríssimo foi o responsável por eu ter assumido como segundo time de coração... não! de coração não, de pensamento, o Internacional de Porto Alegre. É que o melhor time que vi jogar no Brasil ever foi o Inter de 75/76 (olha esse golaço, aqui), mas nunca dei importância a adotar um segundo time pra chamar de meu, nem Portuguesa, nem Juventus (fui sócio, nadei em suas piscinas, orgulho paulistano rsrs).  Até que em 2007 o fanático Veríssimo, com seus livros incríveis e inspiradores, deu um empurrãozinho: pronto, Colorado! Gremista jamais ne Veríssimo? Saudades... 

Esses livros me marcaram. Luis Fernando Veríssimo (1936-2025)



quarta-feira, 20 de agosto de 2025

LENDO.ORG (74)

Comecei um novo romance. Tem decisões que são sábias. Faz uns 5 anos, decidi sempre estar com um romance em leitura, e assim tem sido. O anterior levou 2 meses, um catatau não se digere rápido. E me surpreendeu, romance brasileiro recente não costuma ter aqueeeela profundidade. Com 500 páginas, fui fundo! rsrs. Mas confesso que no final tava de olhinho espichado pro Ishiguro que comprei na saideira da Livraria do Brooklin. Ah, a paz que o Nobel de 2017 entrega é muito necessária nesses nossos dias cornucópicos. Tem um ritmo suave que acalenta. E logo no começo o personagem dizer: "os do mal são espertos demais para o cidadão honrado", ah ah, me colocou um sorriso na cara. Me lembrou Hesse: "O mal surge sempre lá, onde o amor não alcança". Se aquele Nobel, que adoro, me faz sorrir, esse, de 1946, me faz chorar. Por isso amo Hesse e tudo que me faz chorar... aquele choro feliz, obviamente. O choro de tristeza dispenso. Mas estamos em Agosto. Quando éramos órfãos é o 10º livro de ficção no ano. Dou nota, vai ser difícil decidir qual o romance de 2025... Ah ah ah, se toda decisão fosse molezinha assim... Outra mais complicada é saber quando começar a vestir a carapuça do chato, e sair pregando contra aquelas (!) personificações do mal à nossa volta. O mal é feito por gente má, acho. Mas deixa isso mais pra frente, agora o que importa são os tais metais de terras raras que estão dando o que falar, não na geologia, mas na geopolítica: lantânio, cério, hólmio, neodímio, promécio, disprósio, tem até gadolínio!, listados aqui. Riu? E Ninosdileno, Lucivagno, Oêmio, Frankilândia, Ublaudo, Naziozeno, Éblica, Abistelândio, Franso e Dantchesco? Alguns (a lista é grande, quer?) dos nomes próprios curiosos que conheci pessoalmente, ao longo de 40 anos diligenciando, como muitos sabem, pelas periferias da cidade... Rir sim, pra não chorar com o grafite clicado na passarela do Ibira. Premonitório? 26 tá logo ali...

Cliquei esse grafite no pilar da passarela do Ibira. É, minha gente...


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

UM NOVO TEMPO... (10)

Fui dormir meia-noite e cedinho, às 6, desci pra pegar o jornal. Ainda me surpreende (já disse aquiessa tecnologia de papel impresso ... A notícia que me fez dormir feliz já no cantinho da capa, deixa eu ver... opa! Ao lado dela, uma notícia que me deixa indignado.  E outra que me dá esperança... Adepto do Filtrismo (aqui), deveria parar por aí com as notícias...  A da alegria, passa rápido, que futebol hoje comove dez minutos e evapora. A da indignação... como pode um bando de vagabundos ficar causando na mesa do Congresso, pedindo "anistia", em defesa de um desqualificado, desumano e desalmado?  Ah, só mesmo o sprit de corps (chique em francês), aquilo que une iguais. São agradecidos (essa qualidade eles têm) a quem que os colocou no centro do poder, e de lá não vão desatarrachar (é tão bão o que tem de mordomias, é tão bão o que tem de regalos e de soporíferos, que imediatamente esquecem de onde vieram, tudo que prometeram quando pediram votos), se atarracharam na poltrona alta do gabinete e agora pra tirar nas urnas nem a fórceps... Eta Brasil que a gente não supunha, mesmo quando tinha Moral e Cívica e OSPB no ginásio, a gente não supunha que degradaria pra essa avacalhação... Cadê os capazes? Não tem gente decente pra mudar isso pelamordeDeus?!  Cadê os jovens que nos orgulhem e não nos engulhem??  Mas se o mundo todo está se degradando a olhos vistos... Não há rincão (Nepal? Chapada?) que não esteja degradado, vide Israel, caramba!, era o paraíso na terra e hoje é (está) um inferno... por conta de uns desgraçados no poder! Se até o potente e admirado tio Sam degenerou no que está lá, e segue crescendo (Democratas esfarelam!), porque não o Brasilzão?  Ah, o Brasilzão não!, que aqui é trópico tá ligado? É terra do samba e da Bossa Nova, da arte na música e no futebol, da improvisação e da fé no concreto, que aqui é terra do muito-ainda-a-fazer-em-defesa-dessa-gente-sofrida... Mas cadê os capazes? Aí, meio como Álvaro de Campos em Tabacaria, que foi à janela procurar toda a humanidade na sua rua, abro a varanda pra Vila Mariana (que sortudo que sou!), mesmo nessa Paulicéia, mesmo com essa toxidade toda, daria pra viver... mas tem um puta BARULHO em todo canto!  Aí a terceira notícia, a Frente Cidadã pela Despoluição Sonora (aqui). Uns gato-pingado lutando contra o tsunami de barulho... é um bafejo de esperança.

Um cantinho de notícias na capa do Estadão de hoje.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

LENDO.ORG (73)

Chegaram as estantes. Agora é ajeitar o espaço e montar os 23m lineares de prateleiras. Devem comportar os 1.000 livros. Que são quase 1.100, não sou Caxias assim de cravar mil e serem mil. Também não podem ser 1.200, que desmoraliza o conceito rsrs. Mil livros. A experiência da vida diz que mil é o meu número, ainda mais que agora entrei na última reta do triângulo (aqui)... Por isso a biblioteca é fluida, arisca, são mil cambiantes... Estou louco pra instalar os títulos recentes que tratam do ataque à democracia mundo afora, os canalhas fascistas (quer ser chique? chama de autocratas) agarrados em seus podres poderes (a grana desmesurada!)... Mas chegaram as estantes, em boa hora, que faz um ano que estão encaixotados, em frágeis caixas de papelão. Eles sofrem, eu com eles. Alguns os tenho pela beleza editorial. Mais e mais vejo que pequenas editoras, podendo fazer pequenas tiragens, se esmeram em qualidade gráfica, composição zelosa, capa elegante, fonte confortável, papel fino, enfim, um charme de produto - o mais nobre - que a gente quer guardar... desde que, of course my horse, o conteúdo ao menos se aproxime da forma. Nada é só beleza, nada é só inteligência. Mixar as duas coisas é a arte. Mas às vezes coloco em questão. Tipo, ok, são 1.000, mas quase 400 são sobre São Paulo. Só 600 para os outros temas? Deveriam ser 1.400 então? Tipo, ok, 23m... estique uma prateleira única de 23m e coloque os livros lado a lado... é tanta coisa assim? Olha que não rsrs. Mas é o que a experiência da vida... já disse. Como é a sua biblioteca?  A minha é viva. Entra e sai, entra e sai, quase que respira. Neste Julho, até agora - curioso - não entrou! E saíram 12. O método de entrar é simples (vai entrar, que a Livraria do Brooklin vai fechar (aqui), snif, preços promocionais, vou Sábado). O de sair, tem a técnica do banheiro, mas isso é outra história...

Mais um livraria de bairro que fecha... Culpa do celular? Da Amazon? De eu não ir?
(foto da livraria do Brooklin: Rogério Pallatta (VejaSP) in vejasp.abril.com.br 



terça-feira, 8 de julho de 2025

LANCES URBANOS (102)

Era 1979, e sou eu debruçado na mureta da antiga rodoviária, esperando a turma do 3º ano. Íamos a uma chácara em São Roque (ou Ibiúna? ou Cotia? faz 46 anos!), churrasco de encerramento do colegial, da fase compulsória de estudos, mirando cursinhos e vestibulares, também obrigatórios, ninguém ousava discordar. Como se vê, não fui eu quem bateu a foto, e quem bateu não a mostrou na hora, como se faz hoje. O filme ficou na máquina, um dia se revelou e eu nunca soube dessa foto até que - surpresa máxima! - dei com ela num Face da vida (não tenho Insta), nesses grupos de fotos de São Paulo, à guisa de registrar a saudosa rodoviária de São Paulo, na praça Júlio Prestes, na Luz, cujos ornamentos acrílicos eram uma coisa bem diferente e gostosa de ver. Quem tem mais de 50 tem muitas histórias nela... Aí mudou pra ZN, virou o Terminal Rodoviário do Tietê, um caixote concretoso que o Maluf inaugurou em 82, muito maior e funcional, verdade, mas zero sex-appeal...  Daquele dia, certamente Dezembro de 1979, não esqueço a coleguinha que chegou atrasada e, não encontrando lugar no ônibus, chorando correu pra abraçar alguém, e esse alguém era, orgulhosamente, e sem saber por que, eu. Ficou no pódium da memória, que a memória é sempre um pódium todo especial, não? E lá fomos nós, ocupando metade do ônibus, embalados por Mania de Você e Bandolins, os megassucessos daquele ano, fita-cassete na certa. Choveu muito, muito barro pra chegar e sair da chácara, alma lavada de alegria e emoção, os caminhos se bifurcariam para aquela turminha, paixonites balançaram...  E com você, como foi? Somos muito a turminha que tivemos na escola... . Aquela era do Caetano de Campos da praça Roosevelt. Porque tinha o Caetano da Aclimação, e isso é outra história...

Depois de décadas, a foto...


sexta-feira, 27 de junho de 2025

UM NOVO TEMPO... (9)

29 de Junho, São Pedro. São João, Santo Antônio... qual o seu time?  O meu é São Sidônio. O que não fez milagres. Santo a gente pode mudar. É que sempre fui muito São Pedro. A igreja no Tremembé era (é) São Pedro de Tremembé. De. Chique. Como o nome, Pedro. Sempre achei. Mas se tivesse tido um filho chamaria Hermes. Aí vieram filhas e o assunto passou. Os santos não. Como é ser santo?  Uma busca, para quem busca. Dá vontade ser. É preciso ser. Difícil é ser. Pensando em santos, na Casa Verde (baixa) é São João Evangelista. Na média é Nossa Sra. das Dores. Na alta, nesse bairro de três andares, é a Santíssima Trindade, mix de santos e afins. E São Francisco?  De Assis ou Xavier? E tem São Francisco de Sales, patrono, vejam só, dos escritores e dos livros! E São Gonçalo? Tem missa em japonês aos Domingos... Minha primeira igreja. Ali pertinho (na paulistaníssima Tabatinguera) a de Santa Luzia, dos olhos... Mas péra, falo de santos, não de igrejas, que santo que não pecou ocupa gol. São João Paulo II é nome do túnel no Anhangabaú (exagero, o santo ou o túnel?). Santo Antônio de Sant´Anna Galvão (que nomão!) é muito paulista! O santo surfista é brasileiro (aqui), mas ainda não é santo, em processo. Antes, agora em 7 de Setembro, vem o santo dos tempos informáticos, Carlo Acutis (aqui), italiano. São Carlo Acutis? Um novo tempo... Vai ver que ser santo não é senão apenas ser, naturalmente. Um cromossomo raro, uma pancada sem querer na moleira da criança, um acidente feio e o resguardo de meses na cama, olhando o quadro cristão que a tia-avó colocou no quarto, o Sol batendo gostoso na poeira e o silêncio que, por milagre (!), existia ali... É, com tanto barulho, milagre surgirem santos. Ou santas. Sant@s.

Praça João Mendes em 1949.  São Gonçalo lá no cantinho direito. 
(foto: Google images)


segunda-feira, 9 de junho de 2025

LENDO.ORG (72)

Vamos todos pra Coromandel! Garimpar a sorte nas margens do rio Douradinho, perto de Uberaba. De repente cai na minha mão, na sua (quero comissão!), um diamantão! Acaba de ser retirado das entranhas da terra mineira o 2º maior diamante brasileiro ever (aqui), 646 quilates. 16 milhões. O que você faria com essa grana? Nesse instante, penso que daria um vale de mil reais para todos que me procurassem, pra gastar na feira do livro da praça Charles Miller, que começa dia 14 (aqui). Daria 16 mil vales-livros. É vale pra caramba! Como entregar 16 mil vales?  Pela Amazon? Mercado Livre? (Nem pensar, as big techs vão ferrar o mundo em velocidade IAnosférica!). Na portaria aqui da França Pinto, que nem porteiro tem? Viria alguém? Acho que sim, faria fila, muita gente gosta, um bocado ama livros. Mas vamos limitar a 10 mil vales, que tem que sobrar uns 6 milhõeszinhos pra comprar um rincão aprazível no interior da Bahia (sei a cidade, quer saber pergunte), com um confortável bangalô onde levar meus livros e discos e poucas coisinhas mais. Sempre aberto às pessoas queridas. E ainda sobraria pra presentear os mais próximos com seus desejos mais flamantes de consumo. Sabe aquelas (des)horas de insônia, quando pensamos besteiras, quando oramos (não nos deixeis cair em tentação...)?  Penso: o que eu daria para as filhas? Grana, claro! O que eu daria para a segunda órbita de parentes, merecedores de uma bela pizza de desejos? Amigos próximos não seriam esquecidos, of course my horse. É, acho que só seriam 5 mil vales, o que ia pintar de amigo... Vô Manoel tentou o garimpo com dois filhos no Sul da Chapada Diamantina. Meu pai conta da volta frustrada, dias a pé na estrada de terra, a Lua cheia inesquecível, a fome... Essas aventuras (as mesmas de Ouro Preto há 300 anos, Brumado há 70, Minas hoje), essas aventuras ninguém sabe no que vai dar, ao menos seu Edion e tio Izaías sobreviveram...  Coromandel deve ter muito coronel...  Riqueza por riqueza, vou à praça Charles Miller semana que vem.  E você?

Maio de 2025, o 2º maior diamante já extraído no Brasil.
imagem: Reprodução Globo, in estadao.com.br


quinta-feira, 8 de maio de 2025

LENDO.ORG (71)

Pus o protetor auricular, baixei o boné rente aos olhos e adentrei o templo na Barra Funda.  Era eu e os livros, mais nada. Faz décadas que vergonhosamente corro para as feiras e promoções de livros a 50%. A de fim de ano, na USP, é um Maracanã.  Essa (aqui) da  Unesp, um Itaquerão de editoras e distribuidoras, obrigadas por contrato a dar 50% sobre o preço de tabela. Todas nos mesmos lugares dos últimos anos, facilitando a memória. Eu e os livros, nada dos olhares piedosos dos vendedores, nadinha de conversas vulgares no templo... Logo na entrada, as deliciosas editoras universitárias, mas passei direto, nada de academia, quero novidades arrasadoras! Mas não seria exatamente nas mesas da Companhia das Letras, sempre a mais lotada, imensa oferta de autores, parece que tem tudo! E não quero nada dali... Ao lado, na Martin Claret, dou com o livro mais grosso ever, nem Bíblia vi assim, Guerra e Paz em capa dura, volume único em estojo e...  1600 páginas!  Os Miseráveis e O Conde de Monte Cristo, com suas 800, pareciam gibis! Boné falhou, de repente vejo uma jovem coreana, dessas como que saídas de uma mangá, com sacolas de livros certamente em português, e aplaudi a diversidade étnica. (Pretagonismos, um título...). A LP&M, com pilhas de livrinhos de conteúdo intenso, charmosinhos, do tamanho de um celular, para leituras rápidas em ônibus e metrô (nem falemos de metrô nesses dias de luto e superlotação... Para quando 3x mais linhas de metrô nessa metrópole desunida?)... E seguimos sem nenhum temor ou pudor de pedir para tirarem o filme plástico dos livros, que sem ler não dá ne? Um critério bem objetivo de escolha: não dá pra ler letrinha pequena!  (Gosto dos títulos da editora Alameda, mas sua letrinha não dá!, já disse ao dono). A trilogia 1802, 1822 e 1889, do Laurentino, por R$ 135... tem pizza que é mais cara... Opa!, vamos levar o de crônicas da nova imortal, com 60% de desconto!  (Encalhado?)  Pais e filhos levando livros, cena linda... Ler em busca de entendimento (entender o planeta estar enchendo de ignorantes e ressentidos!), em busca de prazer (os quadrinhos que atraem jovens, as bancas de infantil com sua capas atraentes, os 5 volumes d'As Mil e uma Noites, para ler em mil e um dias...), em busca de ócio, por que não? (porque é só disso que se trata: ler.)  Vai até Domingo (e nenhum dos 12 livros saiu mais caro que o x-salada com um chopp mais tarde...).

Desde livrinhos da LP&M até catataus da Martin Claret...


segunda-feira, 21 de abril de 2025

SAUDADES... (57)

Terminei o café e abri o jornal - ritual antigo - para o scanner matinal. Da seção de esporte os olhos passaram pela foto do papa na Páscoa e o pensamento foi simples: ele não está bem. E seguiram adiante...  Meia hora depois o chamado aflito da Adri - o que terá sido meu Deus? - veio com a resposta: "O papa Francisco faleceu".  Fiquei com o olhar perdido, percebi, meio sem foco em nada: foi-se o papa mais querido - disparado - dos cinco que vivi. (Pa-pa-Pá, Pa-pa-Pá, Papa Paulo 6º, brincava de dizer. Meu papa até os 15 anos. Era simpático. 1978 foi um ano estranho, teve 3 papas. Lembro onde estava quando ouvi que João Paulo 1º tinha morrido, um mês depois de assumir, estranhíssimo. E veio João Paulo 2º, com ares atléticos e sorrisos de roliúdi. Depois Bento 16, meio o oposto, cara brava, o único que vi ao vivo, na varanda do mosteiro de São Bento, noite garoenta de 2007...). Liguei a tv e passava uma entrevista recente de Jorge Mario Bergoglio, nosso argentino mais querido, Francisco 1º: Acredito que Deus, nesse momento, está nos pedindo mais simplicidade. Nesses tempos confusos, terá a Igreja um novo sumo pontífice que nos oriente profundamente pela mensagem de Cristo? Tenhamos esperanças. Saudades...

Estadão de 21/04/25


quinta-feira, 17 de abril de 2025

LENDO.ORG (70)

Não postei um "Saudades..." para Mario Vargas Llosa, mas ao ler trechos do seu discurso de posse no Nobel, achei que poderia. Um ferrenho defensor da democracia, inimigo público dos tiranos e autocratas. Pero assumo que tinha bronca de algumas posições políticas do grande peruano. É que quando se pisa fundo na defesa do liberalismo, o risco de derrapar existe, como achei que aconteceu em artigos que li do autor de Pantaleão e as visitadoras e A Guerra do fim do mundo, livros dele que li e não me arrepiaram, critério principal. O discurso sim (se quiser cópia me peça), arrepiou. "Uma ditadura representa o mal absoluto, uma fonte de brutalidade e corrupção, e de feridas profundas que demoram muito para se fechar". Llosa relatou que conviveu com pessoas de todos os tipos, pessoas excelentes, boas, ruins e execráveis. (Quando li execrável pensei naquela pessoa, se é que se pode chamar de pessoa...).  Mas aí lembrei de outra e pensei: nenhum daqueles adjetivos a define. Melhor louca. É. Marina Abramovic. Faz uma semana peguei na estante esse livro, que comprei faz tempo, fui dar uma olhada... e não larguei mais. O não-ficção do momento, junto com o de ficção da última postagem (aqui), que vai longe. Com essa cara de séria, de mulher madura e definida, ela comete as maiores maluquices em suas performances, usando seu corpo como suporte. Beirando o místico e o atroz. É. Trata-se das memórias dessa sérvia, de Belgrado, dos tempos da Iugoslávia de Tito... Com 78 anos, parece que até hoje é atirada. Louca. E tem os santos também. Começou o processo de canonização de Gaudí, por ter dedicado a vida a erguer a catedral da Sagrada Família, em Barcelona. Um milagre arquitetônico, dirão, justificando o santo...  Excelentes, boas, más, execráveis, loucas e santas podem ser as pessoas. O que mais? 

Um livro por dia. Não sabe o bem que lhe fazia.


sexta-feira, 21 de março de 2025

LENDO.ORG (69)

Faz um ano minha biblioteca (80%) está encaixotada. Dá saudade! Por isso movi ajuda e músculos, trouxe as caixas pra cima, abri todas (menos as "São Paulo") e, revisitando, enxuguei o acervo, direto para o bazar da AACD. A essa altura da estrada da vida temos que ter o melhor junto de nós. Os melhores amigos, o melhor papel higiênico, os melhores livros... De mil, não vou tirar 100 - "os menos melhores" - e passar adiante?  Assim fiz, enquanto a biblioteca fica à espera de novas e melhores prateleiras... Pertinho ficam aqueles 20%, os queridinhos, os certeza-da-vitória. Mesmo assim é comum acontecer de pegar pra ler o último livro que entrou... É.  Aí vale o conceito UEPS. Em 81 entrei na PUC em Ciências Contábeis, eufemismo pra Contabilidade. No primeiro dia de aula, quando o professor abriu os razonetes de débito e crédito no quadro-negro (ou lousa?) eu olhei pro Jorge, o Jorge olhou pra mim e viramos amigos instantaneamente: "Não vai dar pra ficar 4 anos vendo isso ne?!", dissemos em uníssono.  O Jorge, japonês fora da curva que gostava de barzinho (As últimas nuvens azuis do céu da alameda principal, na Jaú, seu preferido), o Jorge reoptou pra Matemática, eu reoptei pra Ciências Econômicas (vulgo Economia). Mas antes tivemos que sofrer dois semestres com Introdução à Contabilidade, de onde me ficaram mais vivos os conceitos de estoque PEPS e UEPS. E esse último mais, porque sempre aconteceu mais: UEPS - Último a Entrar, Primeiro a Sair. Pois agora mesmo, acabou de chegar o livro do mês do Clube de Literatura Clássica: Ivanhoe, de Walter Scott. Chegou e já saiu direto pra leitura! Um clássico. Por que minha mãe pronunciava esse nome em inglês, "aivanrrou", em vez do acaipirado Ivanhoé? Mistério. Um legítimo clássico. Espirituoso e divertido. Pioneiro no gênero romance histórico. Saxões x normandos, cristãos x infiéis... Código do amor cortês (lembra?)... 500 páginas daquela Idade Média, bom pra fugir dessa nossa.

Ivanhoe - romance histórico da Idade Média britânica.


terça-feira, 4 de março de 2025

LANCES URBANOS (101)

1971. Por essas e outras mantenho o Face, essa foto veio de lá, resgatando lembranças concretas. Eu tinha 8 anos e morava no prédio Alice [1], na rua 25 de Março. Lembro das palmas brancas no jardim do parque Dom Pedro II, antes desse estacionamento, um passeio frequente para minha mãe, a meros 100 metros do lar. Em [2] está o edifício Guarany, famoso projeto de Rino Levi, porém mais famoso porque atrás, enterradinho entre o prédio e a Secretaria da Fazenda, ficava (e fica, creio) o Grupo Escoteiro Parecis. Fui lobinho ali. Acampei em Ribeirão Pires, aprendi (e logo esqueci) a dar nós, a akelá era loira sueca (o chefe escoteiro também!), e era um tal de - sempre alerta! - caçar a boa ação do dia... Em [3] o Batalhão de Guarda do Exército que, voltando da escola na Mooca, eu via o sentinela na sentinela, hoje nem um nem outra, quase escombros...  Pouco acima, as obras da ligação Leste-Oeste, que foi uma ponte de safena necessária para substituir a cansada e saturada avenida Celso Garcia...  Em [4] uma falta que sinto: nunca entrei nesse colégio, a Escola Estadual São Paulo, ao lado do Caetano de Campos talvez a mais clássica dos escolas públicas paulistanas. Sua arquitetura, há 50 anos, parecia futurística...  O estacionamento gigante (primeira grande impermeabilização da cidade?) antecedeu o não menos gigante terminal de ônibus, despejando e recolhendo pessoas de manhã e à tarde, o movimento pendular que nem aos Domingos diminuía, porque no Centro estavam as maiores e melhores diversões da cidade...  Em 72 mudamos para o Bixiga e aí são outras histórias...

Quatro referências no parque Dom Pedro II em 1971. (fonte: Facebook)


Já citei o prédio Alice aqui. Se o Guarany é de 1942, o Alice deve ser da década de 30 talvez, vou pesquisar.  Apartamentos pequenos, de um quarto, na década de 60 abrigavam famílias multi-étnicas.  Lembro de árabes, armênias e japonesas, todas esperando o momento de sair dali.  O Centro ainda não degradara, mas os primeiros 300 metros da 25, entre a Rangel Pestana e a General Carneiro, era conhecido pelos galinheiros.  Isso mesmo, tinha vários galinheiros, num tempo em que matar e depenar frango em casa não era estranho. Já tinha as lojas de tecidos, é verdade, minha mãe simpatizava (quem disse que a mãe da gente não pensava bobagem?) com um Hamuche que depois ficou rico... mas o cheiro das galinhas prevalecia e as famílias (até a baiana) foram migrando para bairros mais (ou menos) cheirosos... 

Em 2012, o prédio Alice já cortiçado. À direita a rua Luis Teixeira (Beco do Corisco),
 e a seguir o arco do Beco do Pinto, que liga com o Pátio do Colégio


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

UM NOVO TEMPO... (8)

É, um filtro. Ainda tem em casa? Fui pra Minas e estranhei o filtro, só no terceiro dia experimentei, e que delícia (água quando se tem sede é das três coisas mais gostosas do universo). O que tem o filtro? Seguinte: tem que filtrar. Tem que filtrar tudo. Se não reparou repare. Filtrar pra pôr pra dentro. Filtrar pra pôr pra fora. Quem não filtra se expõe. Quem não filtra espalha. Tudo mesmo? Sempre? Isso, pensadamente, lembradamente (a gente esquece) até que se torne natural, quase imperceptível, uma arte, o filtrar. E vire fluxo cristalino, aquela fonte ininterrupta e benfazeja que admiramos nas matas... A natureza filtra, nada é excessivo. Disse o poeta que a calma sabedoria é calar, calar. Exagerou. Filtrar tá de bom tamanho. Um exercício. Agradeço (e nem sempre entendo) quem filtra. Dá vontade de inaugurar uma religião, o Filtrismo... Filtro e encerro. 

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