quinta-feira, 17 de abril de 2025

LENDO.ORG (70)

Não postei um "Saudades..." para Mario Vargas Llosa, mas ao ler trechos do seu discurso de posse no Nobel, achei que poderia. Um ferrenho defensor da democracia, inimigo público dos tiranos e autocratas. Pero assumo que tinha bronca de algumas posições políticas do grande peruano. É que quando se pisa fundo na defesa do liberalismo, o risco de derrapar existe, como achei que aconteceu em artigos que li do autor de Pantaleão e as visitadoras e A Guerra do fim do mundo, livros dele que li e não me arrepiaram, critério principal. O discurso sim (se quiser cópia me peça), arrepiou. "Uma ditadura representa o mal absoluto, uma fonte de brutalidade e corrupção, e de feridas profundas que demoram muito para se fechar". Llosa relatou que conviveu com pessoas de todos os tipos, pessoas excelentes, boas, ruins e execráveis. (Quando li execrável pensei naquela pessoa, se é que se pode chamar de pessoa...).  Mas aí lembrei de outra e pensei: nenhum daqueles adjetivos a define. Melhor louca. É. Marina Abramovic. Faz uma semana peguei na estante esse livro, que comprei faz tempo, fui dar uma olhada... e não larguei mais. O não-ficção do momento, junto com o de ficção da última postagem (aqui), que vai longe. Com essa cara de séria, de mulher madura e definida, ela comete as maiores maluquices em suas performances, usando seu corpo como suporte. Beirando o místico e o atroz. É. Trata-se das memórias dessa sérvia, de Belgrado, dos tempos da Iugoslávia de Tito... Com 78 anos, parece que até hoje é atirada. Louca. E tem os santos também. Começou o processo de canonização de Gaudí, por ter dedicado a vida a erguer a catedral da Sagrada Família, em Barcelona. Um milagre arquitetônico, dirão, justificando o santo...  Excelentes, boas, más, execráveis, loucas e santas podem ser as pessoas. O que mais? 

Um livro por dia. Não sabe o bem que lhe fazia.


16 comentários:

  1. Ninguém pode escapar das contratações, muito menos os Gigantes da espécie. Borges gostava de exibir a medalha que ganhou de Pinochet. Kafka consumia pornografia. Balsac era mais realista que o rei, ou seja, apoiava Napoleão III. Picasso era machista ao extremo.Nads mais humano que ser contraditório l

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    1. Todo mundo tem seu dark side, né querido primo? Abração!

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  2. Assim somos todos nós, um pouco de tudo...muito legal seu texto!👏👏👏

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    1. Exato! Obrigado querido anônimo. Ou anônima rsrs

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  3. Excelente. Também me decepcionei com a virada à direita de Llosa mas de fato sua postura crítica em relação às ditaduras merece respeito.

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  4. Flora Christina Bender18 de abril de 2025 às 08:22

    Ferrenho defensor da democracia onde, Britto? Era democrata mediano, entretanto um bom nacionalista. Seus livros fizeram a cabeça de muitas gerações. Adotei muitos no ensino médio e no superior. Tb não me arrependo, pois eram muito bons. À medida, porém, que envelheceu, passou a ter simpatia pela direita e pela extrema direita. Num de seus artigos para o Estadão, mostrou-se implícita ou explicitamente favorável ao inelegível. Um cara brilhante apoiar um medíocre, que defendeu o maior torturador do País é surpreendente e decepcionante. De todo jeito, um gênio na literatura, e um equívoco na ideologia.

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    1. Que belo comentário, Flora. Sim. Um peruano ser membro da Academia Francesa de Letras, não tem como não se afastar um pouco dos dramas aqui dos mortais ne? Obrigado!

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  5. Não tive oportunidade de ler Llosa...fiquei curiosa.. assim como a Marina...

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    1. Que legal Áurea! A Guerra do fim do mundo retrata a guerra de Canudos, no interior da Bahia. Pode ser por aí. Obrigado!

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  6. Que texto! Dá pra ir pro divã com ele e com os comentários que o complementam e levar junto nossas contradições, nosso discernimento "filtrado" pelos desejos, afetos, e pela nossa materialidade cultural-socio-produtiva (existe isso?)

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    1. Ah, às vezes os comentários são a melhor parte ne Rosalia? Obrigado!

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  7. Muito bom, Britto! Esses dias saiu um artigo sobre o Llosa na 451, que recomendo. "O escritor total", salvo engano. Vale a leitura. Abraços

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    1. A 451 é uma delícia! Revista só de livros. Obrigado Felipe!

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