sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

LENDO.ORG (68)

São Roque é a cidade do vinho, Franca é a do calçado, ok... mas quem sabe qual é a cidade do livro? Entre Botucatu e Bauru está essa jóia. O que?, dirão, eu disse, quando vi essa matéria AQUI, como pode Lençóis Paulista pretender um epíteto tão nobre, de tanta responsabilidade, ser a cidade do livro? Um dia vou conferir... E esse dia chegou. Para arrumar as ideias depois de um 2024 agitado, por que não na... cidade do livro?  Passo 3 dias lá e aproveito pra checar se essa hipótese (o sonho) que virou tese (decreto municipal) transformou a teoria em prática. Chequei, gente: transformou. Lençóis Paulista faz jus ao título. 

Na praça principal da cidade, a senhora biblioteca.

Claro que fui com ganas de desmistificar, cheguei num Domingo e me armei para atacar a cidadela da biblioteca logo na 2ª-feira cedo.  Porém ao ser recebido com um sorriso pela bibliotecária Silviane e equipe, me desarmei na hora. Espaço de paz na Biblioteca Municipal Orígenes Lessa. Simpática, organizada, bem iluminada, que abre simplesmente das 8 às 21h!  E aos Sábados das 8 às 17h.  Fala sério, ali não tem miséria com horário não! E que acervo! São 160 mil livros, contra uma população de 70 mil pessoas, uma das razões de ganhar o título: a cidade tem mais livros do que moradores. Mas isso não é nada, porque são OS LIVROS. Em síntese: por volta de 1963 o escritor Orígenes Lessa, nativo da cidade e membro da Academia Brasileira de Letras, foi convidado pelo fundador da biblioteca, o morador e literato Zanderlite Verçosa, a fazer campanhas pelo crescimento da mesma.  Publicitário que também era (criou a marca Kibom, entre outras), Orígenes arregaçou as mangas e inventou caravanas de escritores até a cidade, para que fizessem doações, e os que doassem mais livros dariam nome às avenidas, ruas e travessas, conforme a quantidade de livros doados. Pronto!  Você preferiria ter seu nome numa viela ou numa avenida? Resultado:  Jorge Amado, Manuel Bandeira, Drummond, Raquel de Queiroz, Paulo Ronai, e outros, são nomes de logradouros em um bairro. Um alinhamento de astros no céu e na terra agraciou a cidade, e a biblioteca foi crescendo... A cidade não tem sebos, porque os moradores doam livros para a B.M. Orígenes Lessa.

A seção de livros autografados no andar superior é enorme. Volumes bem conservados, embalados em capa transparente que protege e dá brilho, um primor.  Mas pensa que é só?  O melhor (ou mais nobre) está do outro lado da rua: o Espaço Cultural Cidade do Livro.  Um casarão ampliado para receber a biblioteca infantil e a área de conservação e restauro dos livros antigos que chegam, e ainda acondicionar, como devido cuidado, as obras raras mais importantes, além de revistas de época e jornais antigos. Para não ser um "depósito de livros", os funcionários fazem uma triagem atenta, e os livros repetidos são distribuídos por 2 ramais da biblioteca na cidade, e por sete "geladeirotecas" espalhadas pelos bairros. Visitei duas geladeirotecas, abri e estavam bem abastecidas, cheias da cerveja que a população da cidade gosta: livros. Salve os ébrios de Lençóis!

O Espaço Cultural Cidade do Livro merece visita guiada.

O fardão acadêmico do "imortal" José Mindlin, o maior bibliófilo brasileiro, exposto no espaço cultural, mostra a consideração que foi dada a esse empreendimento.  Passei dois dias mergulhado no acervo, pedi no balcão livros difíceis de encontrar por aí, e logo me foram entregues... Em visita guiada conheci o belo trabalho feito pela funcionária Inês e equipe, no trato às obras danificadas pelos anos de uso (ou abandono), que chegam ali pedindo socorro, e encontram.  

Geladeirotecas por toda a cidade...

Lençóis Paulista é cidade do livro por decreto municipal. Tramita em Brasília um projeto de transformá-la em cidade do livro nacional.  Aí, se cidades maiores ficarem melindradas com a pretensão da cidadezinha do interior, olha, vão ter que apresentar coisas bem consistentes para "roubar" esse título de Lençóis Paulista. Mas para tudo isso permanecer, é preciso contínuos investimentos em equipamentos, softwares, móveis, projetos de divulgação e principalmente recursos humanos. Fica a torcida para que os gestores municipais sigam incentivando essa proposta, trazendo pra cidade turistas interessados em livros. O mundo dos livros vive atacado por alienígenas de todos os lados. Amantes de livros, somos minoria indefesa, tadinhos de nós... E viva Lençóis Paulista!

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

E AÍ? (7)

Eu, você, todos lembram onde estavam quando Senna morreu. Mas quem lembra onde estava no famoso e triste 8 de Janeiro de 2023? Eu sim, na casa do meu irmão. Muito raro eu almoçar lá, mas por aqueles dias estávamos correndo casas de repouso para hospedar meu pai, então estava lá naquele Domingo. Almoçamos, não tinha TV a cabo, fiquei zapeando os canais abertos. Na Globo rolava um filme no Temperatura Máxima, e de repente em outro canal a imagem fecha na desordem em Brasília, um bando numeroso se aproximando da praça dos Três Poderes...  E na Globo rolando o filme... Péra aí, os caras estão forçando e invadindo os prédios dos três poderes, estão vandalizando!... e a Globo tocando o filme... A essa altura da vida não tenho nada contra a Globo, o buraco é bem mais embaixo do que possam tramar as mídias tradicionais, coitadas, correndo atrás do prejuízo que o YouTube e as redes sociais trouxeram, sem volta... Foi só uma das maiores cochiladas que eu vi acontecer ao vivo na TV, a maior emissora do país "comeu bola" em uma situação bizarra que pôs em risco sim a democracia brasileira.  Quem estuda a história do país sabe quantas vezes a mesa político-democrática foi virada assim, por decisão de uns poucos. Alguém disse que o 8 de Janeiro foi uma "conspiração tabajara", em que o despreparo e a incompetência jogaram a favor da Nação. É por aí. Com um pouco mais de esmero no planejamento e na execução, forçoso dizer, teriam conseguido criar uma situação de desfecho indefinido. Viria uma guerra civil? Difícil, o brasileiro é pouco brioso... Enfim, demos sorte, o golpe não rolou. Dois anos depois, e aí? Amanhã, 8 de Janeiro de 2025, vários atos estão programados em Brasília, não para rasgar a Constituição, mas para reforçar as instituições. Inclusive a entrega do restauro de obras de arte que os aloprados destruíram naquela tarde surreal. Vamos acompanhar esses atos. Que fique como uma data histórica, contra o arbítrio, pela democracia. 
Alopração máxima em 8 de Janeiro de 2023. 
foto: UOL Notícias, in jornaltribuna.com.br