Quando criança vivia olhando pra cima, buscando prédios. Ou melhor, pré-adolescente (10, 11 anos?), quando já se olha as coisas com intencionalidade cerebral: puxa, eu queria morar ali... ou ali, nos belos prédios da Consolação ou (nem fala) Higienópolis, amplos e confortáveis, sonhava... Era punk 6 pessoas num apto de 50m2... Adolescente (13, 14?) passei a admirar também os prédios comerciais. E o da IBM saltava. Era "o" prédio. Em caso de terremoto, queria estar nele. Com todo aquele concreto, nunca desabaria. A IBM era o Gugou, tudo impressionava. Os mainframes impressionavam, a avenida 23 de Maio impressionava... A foto é de 1977. Nesse ano (eu tinha 14, e você?) ganhei a sonhada Caloi 10 e ia ao Parque do Ibirapuera (virou um shopping!), subindo a 13 de Maio e descendo a Abílio Soares. O Ibira está ao fundo da foto, em dia útil, a julgar pelo movimento no estacionamento, que agora sumiu: dois blocos da construtora Lindenberg (blergh!) estão quase prontos ali (morar em 300m2, ok. De frente pra fumaça e pro barulho, oq?). Era então o "governo militar", eu morava no Bixiga, em seus últimos tempos do samba boêmio... E você, onde estava em 1977? (Nesse ano, nesse bairro, fui atropelado, contei aqui). Mas estamos no Paraíso, só que... parando pra pensar, não era e não é um pedaço muito "paraíso" esse aí não. Bem atrás do prédio, na rua Tutóia, ficava o DOI-Codi, órgão encarregado da repressão pesada (gritos audíveis na IBM?)... Corta pra 2018. Já distantes os "anos de chumbo", me machucava passar no viaduto Tutóia (está na foto) e ver a caterva aloprada pedindo a volta do AI-5 e dos militares... Tomaram o local pra se exibir e colocar faixas, o buzinaço de apoio me doía no estômago... Ignorância em massa atordoa. Repetiu em 2022. (Ainda olho pra cima.) Escapamos por pouco.
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| Prédio-sede da IBM no bairro do Paraíso, em 1977. (imagem: Memória Paulista - fotos antigas de SP e suas cidades (grupo no Facebook) |

Essa foto é histórica, verdadeiro documento que serve para mostrar uma São Paulo que começava a mudar de feições. Nada havia em torno do portentoso edifício da IBM com altura equivalente. Ele modificou a região do Paraíso e hoje quem passa por este mesmo lugar nem repara o mesmo prédio com as mesmas características em meio ao paliteiro urbano, é só mais um no meio da multidão de arranha-céus. Mais uma coisa: Em São Paulo as casas duram menos que as pessoas, tamanha a transformação. Isto pode ser observado pelos olhos do bem ou do mal. Cabe a opinião de cada um.
ResponderExcluirSim, hoje é um paliteiro mesmo na região. Me pergunto quanto a IBM embolsou vendendo o estacionamento para a incorporadora... Valeu Geraldo!
ExcluirPor menos, mudei pra Minas. E quando visito São Paulo, vejo tudo tão complexo. Amo. Mas tenho muita preguiça
ResponderExcluirAh, Minas é um ótimo refúgio pra paulistano cansado de guerra... Obrigado querido anônimo (ou será anônima?)
Excluir1977. Ano que me mudei pra Minas com a família. Lembro do carro se afastando da velha casa do Ipiranga e sumindo de vista pra nunca mais. Vejo-a, as vezes, no Google Street View, muito desfigurada, tomada pela lealdade inexorável da entropia urbana. Bela foto do prédio da IBM, fálico, vigoroso numa área relativamente aberta. Creio que hoje esteja pálido entre tantos outros
ResponderExcluirAh primo, o IBM hoje está cercado de outros falos rsrs. Visitei a casa do Ipiranga com a sua irmã Rita, faz uns 15 anos. Nem lembrança daquele jardim de rosas que vocês tinham. Agora garagem coberta pra carros... Abração!
ExcluirLeia-se fealdade no lugar de lealdade. Corretor ortográfico é uma droga
ResponderExcluirSao Paulo ainda baixa....preciosa essa foto. Predios eram exceção! Eu em 1977 morava na Saúde perto do metrô. Privilégio na época. Estudava na USP e me relacionava com a periferia na Zona Sul
ResponderExcluirO metrô em 1977 era uma total novidade ne? Andava quase vazio pra lá e pra cá rsrs. Puxa, quem será esse(a) anônimo(a)?
ExcluirNossa que foto! Incrível lembrar desta época, morei em Indianápolis e vi a Ruben Berta ser construída. Moema era um bairro só com casas, frequentei muito o parque Ibirapuera, meu meio de transporte era a bicicleta.
ResponderExcluirDe Indianópolis para o Ibirapuera era um pulo, ou dois rsrs: avenida Indianópolis e avenida República do Líbano, pronto! Se o clima político podia ser sombrio, não dá pra negar que eram tempos de uma cidade deliciosa, já grande, mas não estrangulada como é hoje... Quem viveu viveu ne Ana Maria? Obrigado!
ExcluirSerá que escapamos mesmo? A conferir...
ResponderExcluirDe 2022 sim. De 2026, como é que você disse mesmo? A conferir... rsrs. Obrigado Flora!
ExcluirQuem tem ** e juízo tem medo. Basta ver o que está acontecendo com o Chile.
ExcluirO Chile já vai mostrar que a coisa não tá fácil não, Flora...
ExcluirCheguei ao Brasil/São Paulo em 1960. Ainda andei de bonde na rua da Consolação. E passeava na Av. Paulista cheia de casarões cada um mais lindo que o outro. Vi cairem um a um. Trabalhava na Praça da República quando embaixo da minha janela que ficava no 1° andar começavam a furar o asfalto com o barulho das britadeiras para a construção do metrô. Comprava no Mappin e na Mesbla. E a ditadura peguei fazendo Jornalismo na Casper Líbero. Com capitão do exercito na sala de aula.Era outro São Paulo. Outra era. E embora eu tenha nostalgia da São Paulo tão bela, não quero lembrar dos milicos cometendo atrocidades.
ResponderExcluirOi Carmen! Eu arriscaria dizer que, se o Rio teve a sua fase dourada nos anos 50, São Paulo teve o seu esplendor nos anos 60, nesses termos culturais, de qualidade de vida, de ter tudo que uma cidade grande tem a oferecer de bom, e pouco do que ela tem a oferecer de ruim. Você vivenciou isso. Só que... cresceu desmesuradamente ne? Está estrangulada... Como resolver ne? Tem que ser com muito, muito jeito e ^dedicação, não com aquela (essa) truculência... Obrigado Carmen!
ExcluirSão Paulo tem uma transformação autofágica. É triste! Um amigo (bom comunista) chegou semana passada da China. e me disse que lá viu prédios ultra modernos conviverem ao lado de construções milenares. O presente que não nega o passado.
ResponderExcluirOi Tonhão! Vamos pedir para o seu amigo dar uma palestra no SECOVI, pra ver se faz a cabeça daquele povo que só pensa em dim-dim, e fecha os olhos pra nossa história... Como são burros! Poderiam ganhar dinheiro e ainda ficar com a consciência tranquila, tratando bem a cidade... Que coisa ne? Obrigado!!
Excluir1977, eu estava no Tremembé, mas passava temporadas pros lados da "cidade" (que era tudo depois da Tiradentes pra zona Sul, rsrs). No Tremembé era tudo tão lindo, tão vivo! A Serra da Cantareira, as flores, as casinhas... Já na cidade o comércio, os cinemas, chamavam a atenção, mas o prédio da IBM era pra mim o "mal gosto", porque "Narciso acha feio tudo o que não é espelho", rsrs. O prédio da IBM... hj me parece tão desnecessariamente grande, desproporcional ao entorno, assim como os novos "empreendimentos" que, como Figueiras Mata-pau, se enroscam nos bairros e sufocam as vilas, os predinhos, as casas, o convívio, o direito à cidade.
ResponderExcluirAh Rosalia, você conheceu aquele tesouro que era o Tremembé de 30, 40 anos atrás... Hoje nem aquele bairro piemontês escapa do sufocamento urbano... Tristeza ne? Obrigado!
Excluir1977. Morava em Araraquara. Adolescente no primeiro emprego experimentando a literatura e logo depois o jornalismo. De 2007 a 2020 fui vizinho do prédio da IBM. Continua vistoso e fotogênico. Fazia passeios com meu cachorro e sentava ali perto. Admirava o predião e inclusive fiz fotos dele.
ResponderExcluirObrigado por mandar as fotos Anael! O IBM é muito fotogênico mesmo... Já Araraquara, conheci em 2022 e gostei. Conheci um sebo maravilhoso lá, limpinho e com música clássica rsrs. Visitei as duas fontes luminosas lá, o estádio e em frente à Sabesp. Deve ser uma cidade boa de morar, tirando o estranho cheiro da fábrica de suco de laranja rsrs. Abraço Anael!
ExcluirNunca morei em apartamento e, não me vejo morando num...sinto opressão...mas, gosto tb de olhar os belos edifícios que desafiam o espaço....
ResponderExcluirAh, então você sempre morou em casa... Verde! rsrs. Obrigado Áurea!
ExcluirDe 1977 para 2025, tanta coisa mudou, tanta coisa continua igual. Dá pra acreditar em quem não acredita em fantasma? Grande abraço, Britto!
ResponderExcluirSão simplesmente 48 anos, meu amigo... Sei que você ainda nem sonhava em passar ao lado da IBM, coisa que hoje faz quase todo dia não? Quanto aos fantasmas... assustam menos do que um bando de carne-e-osso ne? rsrs. Abração Felipe!
ExcluirNessa época eu estava a cinco anos de nascer. Eu lembro da cidade se transformando ao longo dos anos, das décadas. Da uma sensação de sufocamento ver tanto prédio e pouco céu. E só de ler aquele DOI me deu arrepios mesmo após tantos anos.
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