sexta-feira, 21 de março de 2025

LENDO.ORG (69)

Faz um ano minha biblioteca (80%) está encaixotada. Dá saudade! Por isso movi ajuda e músculos, trouxe as caixas pra cima, abri todas (menos as "São Paulo") e, revisitando, enxuguei o acervo, direto para o bazar da AACD. A essa altura da estrada da vida temos que ter o melhor junto de nós. Os melhores amigos, o melhor papel higiênico, os melhores livros... De mil, não vou tirar 100 - "os menos melhores" - e passar adiante?  Assim fiz, enquanto a biblioteca fica à espera de novas e melhores prateleiras... Pertinho ficam aqueles 20%, os queridinhos, os certeza-da-vitória. Mesmo assim é comum acontecer de pegar pra ler o último livro que entrou... É.  Aí vale o conceito UEPS. Em 81 entrei na PUC em Ciências Contábeis, eufemismo pra Contabilidade. No primeiro dia de aula, quando o professor abriu os razonetes de débito e crédito no quadro-negro (ou lousa?) eu olhei pro Jorge, o Jorge olhou pra mim e viramos amigos instantaneamente: "Não vai dar pra ficar 4 anos vendo isso ne?!", dissemos em uníssono.  O Jorge, japonês fora da curva que gostava de barzinho (As últimas nuvens azuis do céu da alameda principal, na Jaú, seu preferido), o Jorge reoptou pra Matemática, eu reoptei pra Ciências Econômicas (vulgo Economia). Mas antes tivemos que sofrer dois semestres com Introdução à Contabilidade, de onde me ficaram mais vivos os conceitos de estoque PEPS e UEPS. E esse último mais, porque sempre aconteceu mais: UEPS - Último a Entrar, Primeiro a Sair. Pois agora mesmo, acabou de chegar o livro do mês do Clube de Literatura Clássica: Ivanhoe, de Walter Scott. Chegou e já saiu direto pra leitura! Um clássico. Por que minha mãe pronunciava esse nome em inglês, "aivanrrou", em vez do acaipirado Ivanhoé? Mistério. Um legítimo clássico. Espirituoso e divertido. Pioneiro no gênero romance histórico. Saxões x normandos, cristãos x infiéis... Código do amor cortês (lembra?)... 500 páginas daquela Idade Média, bom pra fugir dessa nossa.

Ivanhoe - romance histórico da Idade Média britânica.


terça-feira, 4 de março de 2025

LANCES URBANOS (101)

1971. Por essas e outras mantenho o Face, essa foto veio de lá, resgatando lembranças concretas. Eu tinha 8 anos e morava no prédio Alice [1], na rua 25 de Março. Lembro das palmas brancas no jardim do parque Dom Pedro II, antes desse estacionamento, um passeio frequente para minha mãe, a meros 100 metros do lar. Em [2] está o edifício Guarany, famoso projeto de Rino Levi, porém mais famoso porque atrás, enterradinho entre o prédio e a Secretaria da Fazenda, ficava (e fica, creio) o Grupo Escoteiro Parecis. Fui lobinho ali. Acampei em Ribeirão Pires, aprendi (e logo esqueci) a dar nós, a akelá era loira sueca (o chefe escoteiro também!), e era um tal de - sempre alerta! - caçar a boa ação do dia... Em [3] o Batalhão de Guarda do Exército que, voltando da escola na Mooca, eu via o sentinela na sentinela, hoje nem um nem outra, quase escombros...  Pouco acima, as obras da ligação Leste-Oeste, que foi uma ponte de safena necessária para substituir a cansada e saturada avenida Celso Garcia...  Em [4] uma falta que sinto: nunca entrei nesse colégio, a Escola Estadual São Paulo, ao lado do Caetano de Campos talvez a mais clássica dos escolas públicas paulistanas. Sua arquitetura, há 50 anos, parecia futurística...  O estacionamento gigante (primeira grande impermeabilização da cidade?) antecedeu o não menos gigante terminal de ônibus, despejando e recolhendo pessoas de manhã e à tarde, o movimento pendular que nem aos Domingos diminuía, porque no Centro estavam as maiores e melhores diversões da cidade...  Em 72 mudamos para o Bixiga e aí são outras histórias...

Quatro referências no parque Dom Pedro II em 1971. (fonte: Facebook)


Já citei o prédio Alice aqui. Se o Guarany é de 1942, o Alice deve ser da década de 30 talvez, vou pesquisar.  Apartamentos pequenos, de um quarto, na década de 60 abrigavam famílias multi-étnicas.  Lembro de árabes, armênias e japonesas, todas esperando o momento de sair dali.  O Centro ainda não degradara, mas os primeiros 300 metros da 25, entre a Rangel Pestana e a General Carneiro, era conhecido pelos galinheiros.  Isso mesmo, tinha vários galinheiros, num tempo em que matar e depenar frango em casa não era estranho. Já tinha as lojas de tecidos, é verdade, minha mãe simpatizava (quem disse que a mãe da gente não pensava bobagem?) com um Hamuche que depois ficou rico... mas o cheiro das galinhas prevalecia e as famílias (até a baiana) foram migrando para bairros mais (ou menos) cheirosos... 

Em 2012, o prédio Alice já cortiçado. À direita a rua Luis Teixeira (Beco do Corisco),
 e a seguir o arco do Beco do Pinto, que liga com o Pátio do Colégio