segunda-feira, 18 de novembro de 2024

E AÍ? (6)

O triângulo equilátero é simpático: tem os três lados iguais, a mesma medida, equilíbrio total. De uns tempos pra cá me apaixonei pelo triângulo equilátero, mas não era assim. Explico. Sempre gostei da abordagem antroposófica, da análise da vida dividida em setênios. Subgrupos de 7 anos (setênios), formando os grande grupos das estações da vida, de 21 em 21:  Primavera até os 21 anos. Depois o Verão até os 42.  Aí começa o Outono até os 63. E então (finalmente?) o Inverno, até os 84 anos.  Bom, e depois dos 84?  A grande pensadora desse tema, a sábia senhora Gudrun Burkhard, detalhou no livro "Tomar a vida nas próprias mãos" as quatro estações, e depois lançou o "A Vida após os 80 anos", porque hoje (mais do que nunca) a vida continua depois dos 84. Muito bem, muito bonito, mas então pensei em simplificar esse entendimento esquemático (matemático?) da existência.  Não mais 4 etapas de 21 mas, veja só, 3 etapas de 30 anos.  E aí o triângulo equilátero assomou: a vida percorrida em 3 retas de igual tamanho. Do ponto A ao ponto B, os 30 anos da reta inicial, ensolarada, intensa, veloz.  Depois, do B ao C, a aresta dos 30 aos 60 anos (eta aresta boa e longa!), e finalmente a reta (a melhor?) dos 60 aos 90. Onde você está nesse desenho simplificado da vida?  Eu acabei de fazer a última curva (que como podem ver é bem aguda, como a querer cortar laços com o passado), acelerando (até quando?), do C ao A.  E aí? O que você acha? Traduz a existência? E o que vem depois dos 90 (se você teve gasolina)? A bandeira quadriculada? Vitória?

fonte: http://commons.wikimedia.org


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

E AÍ? (5)

Observador das ruas e suas características, desde criança considero a Sena Madureira uma avenida especial.  Larga, imponente, nem tão extensa que se vulgarize (ela, na Vila Mariana, e a Dom Pedro I, no Ipiranga, minhas avenidas-alamedas, desde sempre majestosas devido ao manto verde por toda extensão). Por não morar perto, era sempre um sabor especial passar pela Sena. Por mais de 50 anos nunca imaginei um dia morar na Vila Mariana, mas aconteceu. Em 2014 mudei para cá, e me aproximei quase cotidianamente dessa senhora avenida. Nela o Rancho da Empada (onde meu pai passava com seus "casos" para um salgadinho na calada da noite, contou-me).  Nela a biblioteca Viriato Correia (que frequento com sua ampla e sempre vazia sala de leitura). Nela, em especial, o verde nada discreto, frondoso, de tantas e tantas árvores vigorosas no seu canteiro central, árvores cada dia mais necessárias...  Eis que essa senhora está sendo violentada a olhos vistos, suas árvores de décadas sendo arrancadas para privilégio e escape do todo-poderoso da hiper-modernidade, sua satanidade o carro. Trata-se de um projeto ultrapassado de túneis, que vão eliminar um congestionamento aqui para jogá-lo 500 metros ali adiante... ao custo de 500 milhões de reais! Falam tanto em violência... e o que é isso? Violência ao erário e, principalmente ao meio-ambiente urbano pensado no seu sentido mais amplo. A violência da moto-serra serrando a despeito dos gritos dos manifestantes, que ainda tinham que ouvir dos motoristas: "vão trabalhar seus vagabundos!"...  Ouvir de ignorantes que não percebem que estamos ali trabalhando sim pela vida das árvores, dos pássaros, da vida de tudo o que é vivo, inclusive a deles, negacionistas!  Enquanto isso a liminar não sai... Vai sair quando as 172 árvores (aqui) já estiverem no chão? E as famílias das comunidade atingidas na Chácara Klabin, que moram lá há décadas? E aí?  Duro esse tempo, esse sistema, em que só o deus-dinheiro é louvado.

Uma das árvores imponentes ameaçadas, na Sena Madureira. (foto: Elisa Ximenes)